sexta-feira, 23 de julho de 2010

saudade de quando eu amava você

 diz:
 parei
 nao tenho tempo pra nada
 to trabalhando de dia, de noite e de madrugada
 me falta lembrar como é que é amar, manu
 me esqueci
 de verdade.
 vou dormir, pirar
 beijo, boa noite
 saudade de quando eu amava você.


Sai, vai... vá logo dormir. Eu rezei, pensei, pedi, implorei. Mas você continuou ali por longos segundos. Sabe, eu queria dizer sobre todas as coisas do mundo, todos os segredos; queria injetar em ti toda poesia que me fosse permitida; aqui, toma, todo amor existente no mundo tá dentro dessa caixinha, só é preciso girar esse mecanismo três vezes, ora pra esquerda, ora pra direita. Mas eu sabia que não podia, e essa minha incapacidade corroía. Minha compaixão foi insuficiente, me entorpeceu o raciocínio. Veio a mim a consciência de que nada disso poderia ser feito daqui praí; até poderia te falar dos meus dias de andar por essas ruas inevitáveis; até poderia te descrever a beleza rotireira do simples acordar e fazer o mesmo caminho de sempre. Mas isso não vem de mim, vem de você. A beleza vem de quem vê. E, pela humanidade que ainda te habita, Deus, Jah, os céus ou simplesmente a energia pulsante que é a vida por si só, te presentearam desde o dia em que nasceu com a poesia inevitável de ser Humano. Pois, involuntáriamente, meu amigo, você acaba de fazer poesia num metalinguístico desabafo.

(e isso é bonito... a sua saudade é bonita; lembra que os parnasianos já fizeram poesias com vasos sintéticos; lembra que os ultraromânticos já cantaram a morte, o pessimismo, a necrofilia; que os modernistas, subversivos, sem nem precisarem de muitos destrinches, versaram o cotidiano na sua mais simples e coloquial forma. Lembra que as vísceras foram sempre motivo prum verso; que as saudades, os amores, as flores, o sol, o asfalto, o jornal, a cerveja e as ausências, também. Quanto à vodka, experimenta um dia sem, só pra ver como pode ser o desapego; ou então, quando puder, abuse mais um tantinho, de levinho, e destile um pouco mais da poesia etílica que habitará a tua pulsação.)

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