segunda-feira, 31 de maio de 2010

pra começar pela música... e acabar na imaginação alheia.

Eu quero uma música... é.
Um bolero, um tango...
Eu quero um vinho.
E, se possível, uma varanda e um céu todo refletido nas luzes da cidade.
Quero um cilma.

Te quero com ar de sutileza, chegando de leve, apertando-me a cintura. Depois puxando-me os cabelos, impedindo-me de ir. Quero que me envolvas nos teus encantos para que eu possa, despretensiosamente, entrelaçá-los aos meus. E um amor pernoitará em nós.
Não... amor não. Amor é muito forte... afeto cabe mais.
Então tá, um afeto pernoitará em nós e inventaremos sentimentos mil que viverão intensamente por todo aquele instante. Mas só por aquele instante.

Parece-me que nós seremos para sempre assim: eu e você numa incessante troca de sensações finitas.  Sempre só por um momento, sempre só por uma noite... sempre pela duração de uma música. E não faz mal, sabe? Não acho ruim. De uns tempos pra cá vi que relações efêmeras, por levianas que possam ser, são sim dotadas de beleza - por peculiar que seja.

No toca discos os gênios do BVSC começam a emanar suas melodias latinas. Queria estar tão solta quanto elas... E eu tento! Te tento e te convido. Dissipamos nosso amor inventado no suor somado dos nossos corpos, os quais lutam ofegantes para compartilharem do mesmo lugar. Tento desvendar, por curiosidade pura, a expressão que carregas na face e tudo o que encontro é teu olhar proferindo mil coisas que eu não ousaria reproduzir - não aqui, não agora. Não com essas palavras. E vamos assim! Nessa confusão de membros e dissociação de pensamentos racionais, onde a procedência dessas façanhas não me vêm à imaginação - não agora, não assim, e vai saber com que palavras.
Por isso é por aqui que me despeço e deixo a quem quiser e achar que couber,
imaginar.

domingo, 30 de maio de 2010

menina

ela tinha cheiro de vinho, álcool e baseado.
dava pra ver o cansaço estampado no olhar. os quais, por sinal, prenderam-me a atenção.
gostei deles mesmo que cansados, vermelhos, de tanto esfregar. e que, mesmo assim, não deixavam escondida a expressão que emanavam, nem a tranquilidade que transbordavam.
gostei da sinceridade estética da pele sardenta, do emaranhar dos cabelos ao vento, da naturalidade dos lábios sem batom.

Aquela menina com seu jeito todo orgânico e humano de ser, o andar suave, a sutil oscilação dos quadris...
Sem medo das imperfeições mundanas, sem vergonha das marcas que a vida deixou na pele... Ela sorria um sorriso sincero, sem a pretensão de que todo mundo a estivesse olhando, isso, cara, me roubou a sanidade.

fim de maio

é.

foi naquele fim de maio que nos sentamos em silêncio. um fim de tarde no fim de um mês de maio. silenciávamos, sentados na varanda de uma casa abandonada no fim do lago sul, o fim de um relacionamento.

eramos quatro amigos e um gato. claro que nem todos os quatro compartilhávamos de laços igualmente fortes, mas isso pouco importava, pois todos exalávamos aquele lance de companheirismo só de estarmos ali. estávamos ali por ela, para evadí-la na alegria que pudéssemos proporcionar. o gato era dela, andava pela varanda alheio às conversas e movimentos. a perda recente também a pertencia. e esta se concentrava no peito, ardia em uma só pessoa. mas logo era dissipada no tragar do seu cigarro. a mão tremia.

eu queria dizer mil coisas, mas calei cada uma das palavras. não é o momento, eu pensava. faz tanto tempo que não a vejo assim, tão de perto e tão distante... me dói tão forte! eu queria dar um abraço, bem apertado. mas depois vinha-me à cabeça que aquele não era o momento deveras, era momento de sol, distração e risadas.

ai ai, aquele fim de maio. não foi o fim de tarde que eu esperava para um sábado que mais parecia domingo. eu esperava que fosse mais poético, mas ele foi de vazio, de silêncio. foi de olhares cansados, de vozes fracas. olhares dizendo tudo o que as línguas não ousavam. estávamos cúmplices da tristeza, mas o instante continuava a nos fazer sorrir e dizer besteiras. por isso digo que foi esse vazio que deu vazão à beleza daquela prosa que mais parecia poesia. foi nesse vazio que o companheirismo entrou, e que nós quatro - e um gato - fomos parar no fim do lago sul pra contemplar essa brasília dos dias claros de céus azuius

(pois, ainda que as almas estejam por um tris, elas se enchem de céu se o veem.)

domingo, 23 de maio de 2010

Quero compartilhar novos sonhos e somar novas vontades...

Minha vontade agora é de experimentar.
É de me perder em outras complexidades, me apegar a novos cheiros.
Aprender em outras línguas, me perder em outras léguas.
Quero conhecer novos vícios e calar novos segredos.
Oscilar em novos movimentos, me doar a novos beijos.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

de algum dia do ano passado...

Meus lábios, secos e salgados, sentem sua ausência. E por inércia inversa, por evasão ou tristeza, resolvi tomar um banho e pensar na vida em terceira pessoa:

Estava tão estagnada que desejou profundamente que aquele fosse seu último momento: a umidade refratando e dividindo em mil cores a luz que saía da lâmpada; a sensação do calor que tanto ansiava substituída pela àgua quente que acariciava a sua pele; e o turbilhão de pensamentos que a atordoavam indo por água abaixo.


E foi mesmo um banho quente - foi a água diluindo toda dor e os olhos fechados evidenciando toda a sua calma - que trouxe a lucidez e que a botaram equilibrada novamente.

Tudo que vai e vem deixa um pouco de si.



(Apenas un versinhos bobamente sinceros que simplesmente escorregaram de mim há um mês. Como se uma criança os tivessem materializado, escorregaram no intervalo de um piscar de olhos e eu - quase - nem os percebi....)


E eu vou guardar para sempre
o pouco de ti que deixaste.
E vou pra sempre lembrar
do tanto de nós que levaste.

Quem sabe, se um dia quiseres voltar
cá estarei à espera
de um tanto mais seu pra guardar

:)

desabafo instantâneo

vontade de compaixão incondicional.
as vezes essa minha humanidade me espanta tanto...