quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

niente, de nuevo, rimas baratas, palávras fáceis, é isso

Doce,
de tanto olhar o mar por essas janelas desse quarto de hotel que pouco me agrada andei pensando e acho que a complexidade e a plenitude do sentimento que compartilhamos habita uma linha tão tênue, mas tão tênue, que beira o limiar do amor convencional com o real. Nos amamos, ao meu ver, tão complexa e simplesmente, que tal sentimento parece impraticável por nós. Sinto muito a dor do esclarecimento, e meus olhos ardem ofuscados pela luz, mas meu coração repousa.. Oh, doce, procuro e pouco encontro como te dizer... Eu sempre encontro uma maneira de te agredir, de testar a nossa cumplicidade,
pois eu não compreendia
o tamanho
do que sentia
e testava
só pra ver se encontrava
a borda tua
confundida na minha
por onde transbordava
o meu amor.
Amor menino,
doce, desamor

E pode dizer isso tudo no teu presente,
Doce Meu, pois eu coloquei no passado
só pra ficar mais bonito assim rimado,
nosso amor que já morreu


minto



Coloquei no passado só pra ver se você entende de vez
que, na verdade,
juntei a poesia com a utilidade
de dizer que já passou
pois não me apetece mais a rima, amor
essa canção não mais merece
a rima que um dia ofereci com tanto ardor

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Niente

O acanhamento não foi suficiente e então, de súbito, nua, ela levantou. Com medo de olhá-lo, com medo da reação dele, virou de costas para ver se amenizava a ansiedade: Me ama? Verbaliza esse amor, por favor!
Ele corou, se encolheu no canto da cama e, por detras das duas mãos que tapavam o rosto enrubecido, - e ela apenas pôde constatar isso pois a curiosidade, que era tanta, lhe impulsionou a espiar por cima dos ombros - bem baixinho, as palavras escorreram pelos dedos
palavras proferidas tão
tímidamente
cuidadosamente
escorreram , finalmente:

bláblá*)9*)$u3rj3á=)(L)s2!)$*(#lá

Me ama mais alto? Apenas mais alto?
por favor

oioioioioi

toda essa vontade de preenchimento, de dar sentido à existência, ser egocêntrico que suga energia, fagocita o meio e quem o preenche, demanda atenção e só se contenta com a expectativa sanada
como combustível
como contentamento e desencanto quando a expectativa é quebrada
só para tornal suportável esse mar paradoxal e fluido que é a vida, ou a ilusão

que é beleza
e feiúra

ora amor (nos dias mais pessimistas me convenço de que só existe amor de fora pra dentro, de expectativa pro ego, entende?) dor, raiva, ora preguiça,
ora vontade
flor, cor, sujeira
ora ignoro, ora desespero
e espero
ora demando, e, se merecem essa minha humanidade, quem sabe um dia me dou
quem sabe me dôo
OU
quem sabe um dia, borboleta, só vou e fluo, leve
quem sabe um dia, num eu tão mais longe de onde hoje me protejo, mais humano!
quem sabe mais feliz
OU
quem sabe ser humano é isso mesmo,
quem sabe o que digo não passa de utopia
quem sabe

quem sabe espero
um dia menos demanda
quem sabe um dia apenas - por vezes acho que prefiro apenas
apenas ser, ou apenas apenas, sem verbo
APENAS  e simples
simples
feliz
tchau, ego
E, se lhe acalentar o coração
concedo-lhe a leitura desses versos no teu presente, doce meu

pois coloquei no passado 
só pra ficar bonito assim rimado, 
nosso amor que já morreu

domingo, 5 de dezembro de 2010

bento, homem, menino casmurro

     É que hoje eu sou um homem apaixonado e essa música me faz mais sentido. Hoje, a-pai-xo-na-do, paro para ouvir uma música qualquer bonita e ela me soa completamente real... é preciso desculpar-me pois irei escutá-la até que me faça sentir alguma completude perto da que ela me preenche, Ela, não a música.
Hoje, apaixonado, não um cara qualquer, mas um Homem. Não menino, ou jovem, Homem !! Sim, homem como Bentinho pré Casmurro proclamou aos quatro ventos após ser beijado por Capitu... pela primeira vez, Homem de verdade.
      E quando escuto essa música e ela me soa real e me sinto homem e tento encontrá-la e entender por que Ela, minha menina, e tento escrever pra ver se entendo melhor o por que Dela, de ser Ela, de Eu ser Dela, ou disso que me chamam de coração, me parecer pertencer somente a ela, Ah, coração, me diz! Tu sentes também? Me faz um chá, me conforta... ou eu é quem deveria? Tá precisando dalguma coisa? É, eu também. Também não sei, também sinto vertigem,
     E a vejo, a vejo lá no fundo desse poço que me causa vertigem.


    Imagina uma cena assim de um filme bem maluco... uma cena onde toca essa música, imagina a câmera cambaleando entre o olhar dela e aquele sorriso só dela. Primeiro os olhos. E ela pisca, e olha bem fundo na câmera e no olho de quem vê, e encanta. Um olhar que não apenas olha, mas encanta e causa vertigem, Daí, algumas luzes! coloridas, indiretas, ora ofuscam, ora revelam... E confundem, a câmera mostra uma mão, confunde um sorriso com um suspiro e uma mão que aperta uma outra mão e..  e os olhos dela novamente! Alguém a gira, alguém a segura pela cintura e a deita nalguma superfície macia, num lençol de chita, de retalhos, e a queda a diverte e a faz rir e ela dança, com as mãos, e sorri, semi-nua, ela sorri e chama aquele alguém sortudo que a olha e que de repente cai tonto ao lado dela... E as luzes se mesclam novamente o sorriso e os lábios e algum suposto beijo que confunde os olhos de quem vê,
     E tudo junto confunde o coração de quem sente, isso! Isso assim mesmo! Com a música bonita e as imagens cores confundidas provocando sinestesias e conforto nos olhos de quem sente. Ah, coração, eu sinto! Sinto e consigo ver os lábios dela sorrindo, os lábios chamando, os lábios e os olhos e a vertigem que tudo me chama e me causa, e eu sou aquele homem que desaba tonto diante dela
     e a música e eu homem, hoje, entorpecido embrigado diante dela tão mulher e eu tão menino. Eu tão Bento, ela tão, ela Capitu. Capitolina, menina, dos olhos negros feito jaboticaba olhos de vertigem, talvez ressaca. Queria desenhá-la, descrevê-la em versos, em notas musicais não sei, é verdade, queria alcançar a poesia que ela merece e traduzir toda cor que vejo, a cor nela e das palavras que ela fala,.. ela tem dessas manias de palavras elegantes que mal sei dizer, sei que gosto de ouvi-la dizer e me sinto menino tão Bento perto dela quando ela diz Por outro lado, tão Casmurro quando ela vai, e quando a minha meninice de Bentinho me rouba as minhas próprias palavras quando quero e tento dizer algo para que ela não vá e não consigo e ela vai mesmo assim Ou quando a palavra amor vem à garganta e eu tão Casmurro contido em mim mesmo tento sufocá-la pra ver se ao menos uma partezinha de mim continua intacta protegida longe dessa mulher que me apaixona os sentidos e me rouba o fôlego e o olhar sempre que passa, Como que conter a palavra amor ou a frase eu te amo fosse ainda me resguardar de um amor que eu já tanto sinto mas que o fato de ela não saber assim tão profundo me protegesse, me resguardasse de alguma dor futura e é como se eu precisasse me sentir protegido e inteiro diante dessa mulher que me avassala pois se um dia ela se for eu vou enlouquecer, sei lá, sei não, coração, eu não sei o que vai ser de nós, juro que não sei pois juro que tanto procurei e só agora encontrei alguém tão mulher e tão poesia e tão diferente de tudo e todos e juro que não há nada no mundo que roubar-me-á o fôlego como a minha Capitu o faz, ah, tolo coração, 
     tola língua que esconde a palavra amor
     mesmo eu  sabendo que caso um dia ela se vá justamente por não saber desse meu amor que tanto temo externar 
     enlouquecerei de fato e tornar-me-ei casmurro de vez 

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Ignorance is Bliss (rascunho)

    Para quem um dia trocou cartas de amor convencional com aquele jovem José de Teresina, o vô Zé que agora dormia todas as noites ao seu lado fazia-lhe pensar que aquele ali deitado vinha de Teresina não, parecia era ter nascido noutra terra bem gelada. A realidade é que fora sempre assim, gelado, distante, abismo. O que lhe aflingia agora era como isso havia se agravado. E estar deitada ali, naquele momento como em muitos outros, não fora escolha dela, não!, a vida havia, há tempos, lhe pedido isso - e agora Sartre se revira em seu túmulo. A família a havia obrigado, era tradição, ora pois! Pelo menos ela tinha tido o conforto que lhe haviam prometido, ficar pra titia que nem a irmã? Deus que me livre.
     De qualquer forma, começaram com as cartas, ela e o José. Era intrínseco, na família, que durante os preparativos para os casamentos as moças trocassem cartas com os rapazes para que familiarizassem um tanto, um mínimo. Correspondências minuciosamente analisadas pelos patriarcas, é claro. Nas primeiras cartas que trocaram, os dizeres dele, do Zé, vinham cheios de promessas, formalidades e expectativas - e o coração dela batia sem nem saber por que. Sou assim, sou assado, dizem da minha beleza, tenho vontade de família, cinco filhos, uma pinga depois do café sempre vai bem. Prometo-lhe segurança e reputação, querida prometida. Ela ansiava, algo nela ansiava... criou em si um sentimento parecido com a paixão, de fato até pode ter sido paixão - acho que esses nossos corações orgânicos cheios de insanidade, seriedade,  convições, sonhos e razão, conseguem construir qualquer coisa, qualquer sensação, basta um impulso externo, independendo do contexto e da situação. Sendo assim, talvez por ela nunca ter conhecido ou visto o amor de verdade, promessas vindas do sexo oposto bastavam para que pensasse ser amor. Fazia sentido, afinal, a herança dele era maior do que o Zé da vizinha... ela era mesmo uma menina de sorte.
     A perspectiva lhe enchia os olhos, os quais agora, em pleno séc. XXI, espiavam o Zé da pinga depois do café com uma indiferença tão terna que os tornavam opacos, opacidade e indiferença que vinham do coração por demais acostumado. A vida tornou-se docemente mecânica, se é que um dia foi diferente.

     E sssim foi, depois das cartas trocadas. Esposa desde os dezenove anos de idade de um tal José, rapaz de família rica lá do Piauí, herdou a fazenda do avô e veio. Junto dele, lá foi ela. Casou-se, sangrou, se submeteu. Pensou amar, de fato abraçou, abraçou sua condição e também aquele Zé que dormia ao seu lado, que fazia amor com ela, que lhe pedia mesa posta, atenção e roupa lavada. 
     E assim foi sendo. Requentou-lhe o café todos os dias, lavou suas roupas, beijou sua testa e fingiu, em gemidos, e nos ouvidos daquele Zé que aprendeu a gostar, a satisfação que quase nunca sentia. Assistiu muita televisão depois que puderam compar uma, começou a ter contato com aqueles filmes cinquentistas românticos que enchiam jovens corações de esperanças, ela estava conhecendo o amor, dizia. E a dor tmabém, a dor de algum vazio que começava a se abrir em seu estômago. Mas era tão interno que pouco sabia interpretar, achava que era má digestão.
     E Agora... bom, agora continua sendo. De início, esse agora, numa metadinha de um séc. XX que passava velozmente... mudanças, Jesus Amado, que que tá acontecendo com o mundo?, lhe soou um tanto mais amargo. Passou, e o mundo continuava a transbordar informação. Começou a arder ser mulher em pleno séc. XXI, seus velhos hábitos e valores ficando para trás, o que fazer com eles? Jesus, Maria, José, que trem complicado de ser, que liberdade complicada de gerir! Preferiu manter-se onde sua realidade lhe ensinara. É assim, o mundo muda, porém as individualidades são subjetivas demais para oscilarem na mesma cadência. Talvez não subjetivas, mas subjetivamente cristalizadas. E ela nem tinha, nem tem, consciência disso, fez e continua a fazer a escolha de manter-se estática tão automaticamente quanto requenta o café. Imagina só, ser mãe, senhora, avó, esposa e sobretudo mulher. Esposa dum Zé cabra macho do nordeste senhor de grandes pastos, dono duma penca de gado nelore e de uma patriarcal mentalidade de séculos atrás, quatro filhos pra cuidar... Assusta. Ausenta-lhe ar no estômago toda vez que desperta, e ela come farinha pra ver se passa. Bem sabe da dor que sente, apesar de não saber da entorpecência que ela mesma se convence; não saberia entender a hipocrisia que lhe afinge quando finge não saber que sente a ausência de qualquer coisa sem nome, saudade, saudade de alguma coisa que nunca teve, de alguma coisa que viu nos filmes, ouviu nas novelas de rádio... Algo que, de tanto fingir, faz daquilo a sua mais sincera verdade. É tão corriqueira aquela sensação, e é tão natural que coma farinha logo depois, que convenceu-se da inerência ao ser humano esse vazio. E, no fundo... aliás, na superfície e no fim das contas, isso é belo. E real. Esse jeito humano e ingênuo e distante de ser de si. É frágil e pequeno, corriqueiro, recorrente. É passar por esse mundo comendo farinha e requentando café para um alguém que pouco poderia conhecer. Não, não, ela conhece sim, conhece muito bem! Ele é dono daquelas terra tudo, gosta de café e pinga, principalmente quando o último vez depois do primeiro; gosta de sentar na ponta da mesa e de silêncio enquanto fazem amor; tem um prazer imenso ao contemplar o verde do pasto da fazenda, ou quando come de paçoca e carne seca com manteiga de garrafa. Macaxeira nem tanto, a Maria, coziheira já sabe; Não gosta quando ela se impõe não, nem quando grita, nem quando chora. O Zé sempre diz que é fraqueza chorar; ela procura não chorar perto dele, se esconde sempre no banheiro. Conhece bem o seu marido, ela pensa, e se lembra do café que tá no fogo. Tem dia que é melhor nem dirigir palavra a ele, senão o Zé fica bravo e a digestão fica difícil.
     Não admite a si mesma, não ousa se impor, requenta o café, bota a cana no copo, vê a nova mulher do vizinho ir trabalhar, faz amor em silêncio e, assim mesmo, em pleno século XXI, convenceu-se de sua felicidade.

     Ela vai pra varanda e vê o sol se pondo, como é bonito o dourado desse sol, senta na sua cadeira de fins de tarde para ler uma revista ou tricotar, pensa num filho, dois, na farinha que lhe forrou o vazio e no Zé que tá lendo o jornal satisfeito com a xícara de café dele na mão e a pinga esperando do lado.
Tá tudo em paz.

     E isso sim, meu amigo, basta a qualquer um. Convença-se de que vale(u) a pena e você será feliz. O desafio é o convencimento. E a chave á e ignorância no seu melhor e mais leve sentido. 
Basta um pôr-do-sol e um sentimento de dever cumprido.


agora vai