quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Simplesmente, por Caio F Abreu

Amor


Porque quando fecho os olhos, é você quem eu vejo; aos lados, em cima, embaixo, por fora e por dentro de mim. Dilacerando felicidades de mentira, desconstruindo tudo o que planejei, abrindo todas as janelas para um mundo deserto. É você quem sorri, morde o lábio, fala grosso, conta histórias, me tira do sério, faz ares de palhaço, pinta segredos, ilumina o corredor por onde passo todos os dias. É agora que quero dividir maçãs, achar o fim do arco-íris, pisar sobre estrelas e acordar serena. É para já que preciso contar as descobertas, alisar seu peito, preparar uma massa, sentir seus cílios.


“Claro, o dia de amanhã cuidará do dia de amanhã e tudo chegará no tempo exato. Mas e o dia de hoje?”


Não quero saber de medo, paciência, tempo que vai chegar

Não negue, apareça. Seja forte.




Porque é preciso coragem para se arriscar num futuro incerto. Não posso esperar. Tenho tudo pronto dentro de mim e uma alma que só sabe viver presentes. Sem esperas, sem amarras, sem receios, sem cobertas, sem sentido, sem passados.




É preciso que você venha nesse exato momento. Abandone os antes.Chame do que quiser. Mas venha. Quero dividir meus erros, loucuras, beijos, chocolates... Apague minhas interrogações. Por que estamos tão perto e tão longe?



Quero acabar com as leis da física, dois corpos ocuparem o mesmo lugar! Não nego. Tenho um grande medo de ser sozinha. Não sou pedaço. 
Mas não me basto.

Desamor

Ei, menina... eu gostaria de te dizer algumas coisinhas hoje, agora, assim... Não sei por que decidi isso do nada, não sei... mas preciso te dizer, você pode ouvir? Você quer? Bom, de qualquer forma eu direi, não precisa ler nem ouvir tudo, não precisa nem fingir que leu ou ouviu tudo, só tenta. É que eu me sinto legal  perto de ti. Eu me sinto bem e o tempo passa e parece que a gente nem vê. O tempo voa, a gente sempre diz isso um pro outro - ou às vezes só murmuramos baixinho pra nós mesmos - quando eu reslvo te perguntar as horas, ou vice e versa, e nos assustamos quando, sem exceção, vemos que já se passou uma quantidade enorme e leve de segundos e minutos. E acho que você, assim como eu, pensa que poxa, o tempo pra nós poderia ser maior. Poderiam nos conceder quilos e quilos de horas e minutos, pois só em milhares deles é que conseguiríamos conter-nos, conter nossas conversas e nossos silêncios e alguns beijos... Pensando em ti assim é tão bom lembrar desses pequenos momentos, lembrar da gente olhando o nada, ali parados em estado de contemplação, a gente fazendo qualquer coisa, conversando qualquer besteira, compartilhando nossas experiências tão distintas.. Mas daí quando eu te vejo parada na minha frente e olho pra você assim de novo, assim mais do mesmo.. sei não... quando eu chego bem perto da tua pele e fecho os olhos e sinto o cheiro do teu perfume misturado com o teu natural, orgânico, sei lá, eu peço, eu tento, eu imploro para o meu coração bater mais forte e minhas entranhas se contorcerem por você... eu tento ouvir aquela música e associá-la a nós. Eu tento me emocionar... juro. O teu sorriso, eu acho o teu sorriso tão lindo... eu queria sentir ciúmes dele, queria sentir aquela vontade egoísta de contê-lo só pra mim, mas eu não sinto. Mas o frio na barriga não vem, nem o suor, frio. Meu coração não acerela e minhas entranhas continuam indiferentes.

Por isso me despeço... e desculpa se foi aqui, assim, agora, se você leu e ouviu tudo e chegou até aqui e lhe pareci indiferente... Desculpa, é que tenho medo... é tudo tão ameno, vou ver se longe de você alguma coisa acontece; algum sentimento se manifesta ou meu coração deixa de mania de solidão. Prefiro me despedir antes que comece a arder, a fazer efeito... antes que comece a doer mais em ti e nada em mim.

domingo, 15 de agosto de 2010

Loucura III

Precisa-se de noites eternas e banhos infindos. Foi a nota mental que me ocorreu enquanto eu tomava um puta dum banho depois de um dia daqueles. Porém, segundos depois, ocorreu-me o seguinte:

Que seria de mim se, de repente, tal madrugada nunca mais acabasse? Que seria de mim se meu relógio simplesmente parasse? E os banhos? E se eu ficasse presa em um? Vezenquando nos prendemos e apegamos a certos momentos que, se nos fosse dada a escolha de os vivermos para sempre, pensamos nós que os viveríamos. Mas isso é auto engano.
Se nos fosse concebida tal escolha no plano tempo/espaço/infinito, teríamos medo do limbo da eternidade e optaríamos pela temporalidade natural da vida. Por isso penso que, bem no fundo, estamos todos razoavelmente satisfeitos com essa ordem. Os que não se encaixam, ou arranjam modos alternativos de vivê-la, ou mergulham na própria noção temporal em realidades inventadas ou distorcidas, mescladas; e tais que submergem no  próprio subjetivismo, paralelos, alheios, são julgados como loucos pelos mais conformados.
Mas isso são outros quinhentos.








(a loucura é uma determinação sócio-cultural um tanto quanto injusta. Assusta, eu sei. Mas vai saber quem realmente são os loucos. Vai saber se é mais real estar acordado do que sonhando.. vai saber.)

loucura II



Precisa-se de noites eternas e banhos infindos. Foi a nota mental que me ocorreu enquanto eu tomava um puta dum banho depois de um dia daqueles. Logo depois me ocorreu outro pensamento: por que a realidade me parece tão razoável e tais desejos, tão passageiros? Por que é que nós projetamos tantas possibilidades e tantas vontades, das mais plausíveis às mais improváveis, alternativas à realidade tal qual ela é, sendo esta, no fim das contas, vezes mais sensata que estes? - Err... Seria a sensatez a melhor alternativa ? - A realidade, em toda sua grandiosa relatividade, é mesmo comedida o suficiente? Poderia eu bolar algum outro modelo do real, e poderia este ser mais razoável do que o que já vigora? Quero dizer... num plano mais essencial, no plano da 'ordem natural das coisas', o que nossas pequenas vontades representam diante de tal grandiosidade? Claro que existem infinitos "E Se", mas, seria possível mudar a essência disso tudo? O ser humano, em toda sua natureza, ganância, fraqueza, humildade, pequenez, prepotência, com toda sua paixão, instinto... amor, teria dado rumo diferente à realidade? Sei não.. me parece intangível, quase que inexistente tal possibilidade... 



loucura

Precisa-se de noites eternas e banhos infindos. Foi a nota mental que me ocorreu enquanto eu tomava um puta dum banho depois de um dia daqueles. Logo depois pensei no mundo e nos fatos e nas pessoas andando nas ruas e vivendo suas vidas e na sociedade e no capialismo e em todas as criações humanas, nas escolas literárias, na imprensa, nas vanguardas, nas produções, na economia, na política, nas eleições, na poesia, no esporte, nas pesquisas, invenções, na ciência. Todas essas coisas infinitas que compõe nossa realidade e... o que distingue o mundo real do mundo dos sonhos, se elas também habitam nosso imaginário? Nada, pois. No fundo, a vida é uma criação tão nossa quanto nossos sonhos são. Estes são sim, reflexos das referências que captamos do lado de cá, mas a realidade é também consequência de constantes materializações da  nossa mente. Além do mais, a realidade depende de uma percepção tão subjetiva quanto eles; e o que não podemos controlar, ou seja, o que aparentemente nos foge do controle, é equivalente ao nosso subconsciente.



(Acho, Penso...  pelo menos enquanto dura essa linha de pensamento.)


Sabe... às vezes um sonho parece bom, às vezes um desejo, uma vontade... E então sentimos profunda vontade de vivê-los para sempre, de viver aquilo que idealizamos, de um mundo nosso; muitos falam em acordar pra realidade, botar o pé no chão. Por que diabos é tão importante aceitar as coisas tais quais são? Por que não enlouquecer de vez e viver o que se quer? Loucura é denominação dos mais conformados para conceituar aqueles que não se enquadram; e conceituar é limitar. Pobrezinhos, eu prefiro é sonhar. Prefiro pirar de vez e rir e achar tudo poesia e ser feliz acreditando num mundo do meu jeito.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

madrugada

Sabe, ando constatando o quão imbecil pode ser a nossa - tá bom, a minha - existência. É madrugada de um sábado e eu escolhi não inserir-me na noite boêmia da cidade. Escolhi enclausurar-me em meu quarto e - idealizei - nas palavras de algum bom livro. Restringi-me ao quarto. E à Internet. Cara, que perda de tempo é a Internet, ou melhor: que perda de tempo é a forma com a qual a estou utilizando essa noite.
Você começa a se questionar sobre a utilidade dessa madrugada ociosa e, não sabe o quão estúpido está sendo ao perder horas e horas na frente de uma tela que projeta uma realidade pouco sensual (sensual no sentido de... sentidos! Sim, visão e olfato estão super bem alimentados mas, e o resto?). Não sabe o quão idiota está sendo de estar falando sozinho da forma que está - juro, essa solidão em que me encontro provavelmente levaria muitos seres a extremos como esse (o problema não é falar sozinho...  Mas eu estou de fato parecendo meio deveras panaca pela forma com a qual estou a falar comigo mesmo). Não sabe o quão avoadamente estúpido foi ao deixar o vinho - já que você pensava que seria poético ficar bebendo vinho, sozinho, lendo poesias e ouvindo música - cair no teclado do seu computador.

(Oh só, as aleatoriedades começam a ser fazer presentes e você nem percebe)

Você, sozinho assim, contemplando a si mesmo na miséria de seus próprios pensamentos, não sabe o quão ingênuo é sempre esperar o Amor sem ao menos saber o que de fato ele é (opa! Olha a minha decadência me levando às vísceras clichês). E, na profunda superficialidade disso tudo, você não sabe nem o quão humano é toda essa bagunça


(um minuto de silêncio).

Mentira. Se tens algo que sabe, é da decadente e contemporânea humanidade disso tudo.

cansaço

Hoje é dia de o mundo se apresentar um tantinho mais melancólico diante desses meus olhos cansados, cabisbaixos; Pelas metades; expressando esse lack of energy de dentro, Sabe? Deixarei que minhas pálpebras pendam como bem quiserem; até o limite que ainda me permita contemplar o exterior, mas que me mantenha mais dentro do que fora - sem aquele arregalar dos olhos que faz arder e deixa entrar toda essa poluição visual. Tudo simplesmente mais suave. Sem a intensidade com a qual costumo me entregar e viver e tragar todo tipo de informação que me é bombardeada. Não, não: hoje é dia de deixar a cabeça descansar em qualquer lugar trangível; em qualquer pesamento que não demande esforço; vendo a vida passar como um borrão, sem apegar-me a imagem alguma, só às linhas e às luzes e às cores que se desenham quando a realidade passa com certa velocidade diante do olhar; que nem uma fotografia de baixa exposição, em que o orbturador permanece aberto durante muitos segundos... orbturador de velocidade baixa; realidade de luzes borradas e brilhantes.

Hoje é dia de, sei lá, cansar de cansar das coisas todas e simplesmente me entregar a esse balanço natural da vida... afrouxar as rédias e deixar-se ir um pouco à deriva de tudo.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

oh céus, que dia! cansei. desde de manha que acordei cedo pra ir pra aula e morri de frio e de preguiça no caminho, tava ventando, gelado e o sono pressionando, pesado. aula, aula, física, química, não, química não, vou pra biblioteca, depois aula, intervalo, vamo na cantina, vamo. bora pro sol, bora. ta tão frio né?, o vento ta tão gelado hoje, né?, é mas ontem foi pior, ontem o céu tava cinza, é mesmo.. aula aula, literatura, ai, que amor, literatura. ufa, suspiro. aula aula, biologia, ah não, o marcão nao! droga. eba, almoço, fome, fome... desde muito tempo acordo de manhã pra fazer esse mesmo caminho, a parte boa da manhã é que o sol não tá tão assim, intenso. e meu coração ainda morno do sono e de saudade.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

escancarado

Eu sei quando ela aparece aqui em casa. Eu sei pois ela deixa rastros de si que condizem bem com a própria natureza. Ela é escandalosa, histérica, e assim acaba por deixar tudo quanto é luz acesa; fica tudo escancarado, aberto, as portas, as janelas... bem como aquele par de pernas tanto o faz em minha presença, bem como aquela boca que não cala.
Ela vem, me abre  o coração e depois abandona-me deixando pra trás tudo quanto é buraco, tudo quanto é vazio... Eu, após a sua partida, escancarado e exposto a uma natureza que não é minha, mas que já me impregnou o gingado, deixo tudo aberto à espera de que ela volte, nos tranque e nos isole do mundo de novo. Eu queria ser ela. Ou melhor, queria ser dela. Ou, melhor ainda!, queria que ela me olhasse com aqueles olhos que me ferem as entranhas e dissesse, dentre toda aquela ladainha que costuma sair por entre aquele pelo par de lábios: eu sou tua.