segunda-feira, 2 de maio de 2011

desabafo de segunda


uma imagem de três homens maltratando um gato se fez real, de repente. a internet tem dessas coisas. o gato tá indiferentemente pendurado por uma corda que lhe enlaça o pescoço. tiraram toda a pele dele. e riem. sorrisos orgulhosos, sinistros e isentos para a pose. os membros ainda colados ao couro, as patas coladas ao que ainda lhe resta de pele, e talvez uma vontade de viver ainda agarra-se, isso se é que ainda se encontra vivo, ao que lhe resta de carne e vísceras. enlace tal que forma um círculo irregular onde um dos homens se posiciona estratégicamente para sair no retrato. é de dar dó. não só do gato, mas de todos. dos homens, do motivo obscuro. por quê? falta do que fazer, sangue frio. às vezes a realidade para eles é dura demais para que a simples vida de um gatinho lhes faça diferença. vai saber. me entorpece pensar em como nos perdemos nesse caótico labirinto contemporâneo calejados por demais para sentir qualquer coisa. compaixão?

de repente, uma criança começa a chorar debaixo da minha janela. desconheço o motivo, sei que desatina a chorar e dizer que dói, algo dói, dói muito e não sei se é a mãe impaciente que lhe agarra as orelhas, ou se é algum machucado recente que arde na superfície da pele. chora chora e me entorpece ainda mais a imagem do gato, o pranto da criança; dá uma ãnsia lá no fundo, vontade de chorar, dá um medo. insegurança. mas não é isso. não é bem isso. Não choro. O buraco é mais embaixo, penso, só não sei bem aonde, nem sua origem, sei que é. Sei bem o que me aflinge, apenas não identifico ao certo a natureza da minha reação; perplexidade descreveria bem, mas é mais. Toca Rosa de plano de fundo. música das belas. composição recente duma parceria dessas que só poderia dar certo - a meu ver, pelo menos . sei que ela contribui para esse estado em que me encontro. é música dessas que faça sol ou faça chuva, tempestade ou calmaria, te bota em estado de contemplação e cabe em qualquer sentimento gostoso, epifania ou tristeza. volto ao gato. o pranto infantil já cessou e não me cabem mais sensações tamanhas, por isso escrevo. já que não me tangencia cessar dor de gato algum, humanizar alma nenhuma... faz frio
e me entorpeço
e continuo a não entender

sinto uma ligeira descrença como quem não consegue tangenciar nada que anseia...