(Parte II - O Poeta)
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Há não muito tempo atrás, nessa mesma galáxia, ou melhor e talvez, no mesmo planeta em que vivemos, havia um poeta. Sim, um poeta ainda muito jovem, mas cujos versos falavam das dores, alegrias e proezas de uma longa vida; a qual foi ainda mais intensa do que longa. O jovem vagava pelo seu reino encantando quem quer que fosse. Muitos o chamavam de visionário. Muitos, de rebelde e alguns simplesmente, de artista. Outros não ousavam decifrá-lo ou descrevê-lo, limitá-lo ou definí-lo, simplesmente o contemplavam, curiosos. Fato é que, mesmo os mais receosos aderiram ao menos a um dizer, a uma frase ou a alguma rima do jovem. Mesmos os mais desconfiados sucumbiram, no mínimo, a um gesto que emanara dele. Era simples, porém muito rico em virtudes; era humilde e modesto, e muito, muito belo. Era envolto numa beleza inconcebível por muitos, que se estendia ao longo de toda sua existência e plenitude como ser; era belo no corpo, na alma, no espírito, com as palavras e pela sua sabedoria. Era dono de um olhar doce, pouco visto por aquelas terras, um olhar doce, profundo e reconfortante. Possuía um abraço que muitos dariam o mundo apenas para estarem envoltos em tal.
O jovem poeta tinha uma simples função em seu reino, função cujo único objetivo era amenizar a realidade de todos com seus versos, poemas e sábios dizeres. Vagava por aquelas terras distribuindo-os a quem quer que fosse. Existem duas principais teorias acerca desse fator. A primeira que surgiu foi a linha dos que acreditam que o seu interesse era deixar as pessoas mais acomodadas, proporcionando conforto e anestesiamento da diante da vida em troca de ouro e proteção do Rei. Eles acreditam que o Rei e o poeta compartilhavam de uma relação de troca de favores que se estendeu até o fatídico dia da chegada dos ciganos àquelas calmas terras - dia que, daqui algumas linhas, uma caneca de café e talvez uma ida à janela pra ver se vai chover, relatarei. Há uma teoria curiosa que diz que a única vaidade do poeta era a de ser único, curinga. Vaidade de ser diferente, de se destacar dos demais por conseguir ver além e por isso, com seus versos e falso altruísmo, mantinha o restante da população imersa na própria ignorância. A outra linha principal de pensamento, na qual eu acredito, diga-se de passagem, diz que a sua única vontade era despertar sua cidade do entorpecimento crônico do qual sofria; gostaria que, diante de sua arte, ela, sua cidade, finalmente pudesse acordar para o mundo e apreciá-lo como deve ser. E ainda mais! Com mensagens de compaixão e amor incondicional, ele esperava que as pessoas entendessem tais valores e os praticasse. Mas... né, pobre do poeta se ele visse o mundo como é hoje. Se ele concebesse que alguns anos após a sua partida, tal doença se estenderia, e que a população que ele tanto cuidara, cresceria exponencialmente, extendendo-se ao longo de todo o Planeta; e mais pobre ainda dele se compreendesse o que é a vastidão do Planeta e o que são pessoas ao longo de todo ele sofrendo da mesma contemporânea ignorância.
Pois bem, meu bem, me desculpe, tentarei focar novamente nas aventuras do nosso artista.
Pois bem, meu bem, me desculpe, tentarei focar novamente nas aventuras do nosso artista.
O jovem conheceu várias moças ao longo de suas andanças, escreveu crônicas e poemas para todas elas como forma de confortá-las, de mostrar a elas que ainda existia um cavalheiro que as apressiasse pelas suas boas almas. Era cobiçado por elas, principalmente as da alta sociedade - que encontravam nele uma liberdade e fluência muito contrastantes com suas realidades de aparências, cházinhos da tarde e sorriso amarelo. Porém, nenhuma delas na verdade o interessava, mesmo que ainda se contentasse com a facilidade que tinha pra ver beleza e virtude na simples existência, na essência mais básica dela. Havia um detalhe, imerso em toda sua sabedoria e sensibilidade. Havia uma paixão encravada em seu coração, algo que ele nunca se perdoaria se não realizasse antes de deixar o plano material de sua existência. Que consumia os seus sonhos e transbordava de sua alma, algo que ele nunca havia compartilhado com ninguém mas que, na realidade, era a finalidade de toda a sua existência. Era um amante assíduo de todas as artes, e uma simplesmente o fascinava mais que tudo o que havia conhecido até então: a Música.