terça-feira, 22 de março de 2011

um devaneio rascunho descrente

; Deus,
esse Deus de quem tanto falam não me soa apenas como um escape,
mas também, como um pretexto.

Pretexto para equacionar a culpa, dividir o fardo de liberdade tamanha.
- intervimos, nós homens, o tempo todo na realidade que nos cerca, tragamos o mundo que nos é apresentado e interagimos com ele, modificamos, ou não, nossas realidades, escolhando formas diversas de intervenção; temos escolhas infindas, e navegamos à merce e à medida delas. Vez ou outra, parece que nos foge do controle; vê? Tantas coisas que parecem fugir do controle... do tangível. Nós que alcançamos respostas tão profundas, ainda deixamos escapar. Nunca sentiu que algo lhe fugiu do conrole? E não seria esse eterno vaievem, concepção e criação, cópia, modificação, escolhas, que, afinal, nos "defnine" no mundo? Livre arbítrio? Talvez sejamos mais responsáveis do que imaginamos; verdade. Mais responsáveis do que concebemos, porém, menos capazes do que pretendemos, tantas vezes. Relavitidade eterna. Talvez, ainda e no fundo, saibamos disso.

Então louvamos aos céus,
como que lá houvesse um regente maior para nossas incontroláveis façanhas; ufa, dizemos, amém.
E projetamos nossas locuruas e salvações num todo bem maior que pensamos não nos caber;
seria esse, afinal, o ser humano endeusando a própria existência? Admitindo o milagre de estar vivo? E, ao mesmo tempo, limitando a prórpia liberdade? Homem que quer ir tão longe, admitindo suas limitações?
Sim, talvez!,
penso também que é medo de perder a razão e o sentido no mundo e, ainda mais
medo de perder o controle e ser responsável por catástrofes maiores.

Então, louvamos aos céus
Sem vislumbrarmos que, na verdade, somos nossos prórpios deuses e
nossas vontades, nossa própria religião.


dissipo-me, no medo de pretensão maior
deixo minhas convicções pra depois,
já, as dúvidas, para todo o sempre
hasta luego

segunda-feira, 21 de março de 2011

só, que, vermelhos, quentes, lábios. alguém?

É só que...
É só que hoje, meus lábios, tão vermelhos...
Hoje meus lábios tão tão vermelhos e quentes estão que...
eles só queriam...
Eu só queria...
Eu,
beijo
só.
Que.
Alguém que os surpreendesse com tamanha vermelhidão
quero dizer, alguém os surpreendesse com imenso beijo
surpreendido com tamanha cor
ou melhor! impressionado, esse alguém, com tamanha cor
os imaginasse tão quentes...
tão tão quentes, que quisesse beijá-los...

Quero dizer

É só que hoje, de lábios rubros e quentes,
desejo alguém que os - meus lábios, desejasse beijar

sábado, 19 de março de 2011

de manhã, feito algo imensamente humano

Não sei que horas são. Não tenho vontade nem meios de saber, verdade. Sei que é manhã, e sábado, visto que meu corpo pesa sob meus olhos atentos. Permaneço, assim, atemporal no que tange a exatidão numérica dessa convenção relativa ao que "passa", quero dizer, ao relógio. 

Sinto sono, mas não me acabo por isso. Meu corpo não me parece derreter como frequentemente ele o faz, minhas pálpebras, distantes, rígidas, assim permanecem. É, né? "Confusa" anda sendo uma denominação recorrente para as façanhas ideológicas da minh'alma. No entanto, não me é certo se é mesmo a palavra que melhor me expressa... agora, assim. Desconheço definição mais exata, eis a verdade. Verdade maior é que desconfio de tal existência, bullshit 
definições exatas, eu, pensamento, sensação, isso não existe assim. 
Alma tola, humana, cansada  (porém nem tanto), louca (às vezes, por demais) e exaustiva (bem verdade, quando Ego). 

Ego, traição. Detesto o modo pelo qual me apego aos valores que me rondam, a forma com que me irrito diante de mim mesma absorvendo ações alheias e atribuindo-lhes valores mais ou menos importantes; atribuições desnecessárias, dor sintética, forjada, felicidade burra, ilusão - não sei até que ponto acredito de fato, não sei o limite no qual me atrevo forçar acreditar - e esta, ainda sim, ainda dor, arde. Me dói inteira. Depois me ri; me delicio e danço feito algo imensamente suave sob todas as representatividades de mundo que me são tangiveis. 

A cabeça,
a nossa cabeça faz isso com a gente.


Ôôôô raiva dessa cultura que pulsa em minhas veias, ô angústia!


Ver quem se gosta assim longe, vontade de estar perto; desconhecer o motivo exato para tanta lonjura, Compreendo perfeitamente as condições atuais de "temperatura e pressão", mesmo que meu coração não o queira. Mentira, talvez ele entenda, a questão é que ainda reluta. Anseia e sente saudade, desejo, sente vontade. Pois é rápida a saudade que dá assim que Ele se vai. Mesmo sabendo que amanhã Ele vem de novo, e daqui a pouco, e depois. Mesmo que, em palavras, alguma projeção de amor me seja enviada. É vontade de estar junto, voltar ao tempo de segundos enormes e profundos de presença. 

É, acho que é esse o motivo. Chega sexta-feira à noite e, por cansada, evito a solidão. Não quero, por Deus, estar só enquanto o mundo não está. Enquando Ele não está. Incomoda-me a sensação de sentir como que não quisessem a minha companhia. Sei que a verdade não é bem assim, com essas palavras, mas sei que independentemente das palavra, ausentes ou não, o convite não foi feito. E não é, necessariamente por ser Ele, mas por Ele ser alguém tão próximo.

Preciso deixar isso ir. Essa limitação que sinto. Sim, sinto-me limitada por todos os lados, por toda vontade e desejo, algo me comprime. 


Pouco me alivia compreender a superficialidade dessas questões, sinto-me lúcida por demais por compreendê-las dessa forma, conheço a natureza egóica delas e ainda assim teimo por engolir valores externos que, misturados à minha agonia, alimentam meu ego feito gordice mesmo, responso à ansiedade botando o pé pra fora do silêncio. Aceito um convite que, mesmo que não Dele, me é feito. É convite, é doce. doce doce doce e reconfortante estar ali fazendo parte do movimento, da massa que se desloca variavelmente ao longo do tempo e através do espaço.

Ele
não há sinal de vida. Tudo bem. Eu não quero. Só queria a tranquilidade de alguma certeza menos imunda e impergnada de ego e projeções suspeitas. Tempos de instabilidade, bem sei. Ânsia! Porém, me aborreço e passa, e dramatizo pra ficar bonito, poesia. Vou transcender, penso, vou confiar. Se um dia me derem motivos para invalidar esse voto, eu o retiro e supero a dor, vou em frente. Haverá sempre sol, e calor e chuva e filmes, livros, bocas tortas sorrindo, amor pelas entranhas, gente chata, gente insuportável, gente estúpida e bitolada, gente metida, feia ou bonita, amigos, Caio, a arte, poesia 
isso me aconchega no mundo e, por ele, vou, navego, oscilo - todos esses verbos que, ora denotam, ora conotam o  doce, suave, áspero e ardido  ir pelo mundo.


.  .  .

"... não consigo, não quero ou finjo não poder decifrar."

.  .  .



Numa vertigem louca e profunda
e de repente sentir-me suave e distante de novo, doce doce doce
é sempre doce
e sempre depois do tormento, me amenizo inteira


.  .  .

"Agora agora agora vou ser feliz, eu repetia. Feito dor, não alegria. Agora agora gora. E forçava os olhos pelos cantos pra ver se refletia....
querendo agora já urgente ser feliz"


.  .  .


o amor eram dos dragões de Caio, isso me arrepiava inteira
era gigante o meu torpor no escorrer das palavras. lindo isso
paixão demais, dragão imenso.

eu tenho um dragão em casa, eu diria a ele, a caio
e ele, senhor c.,
está sempre sempre sempre presente, meu dragãoamor
pois mesmo sem Ele, Ela, os Outros, Terceiros, Alheios
o mundo por si e dentro de mim, me apaixona
paixão demais, dragão imenso.

(alimentado por: Os Dragões Não Conhecem o Paraíso, conto e livro - CaiofernandoAbreu)

terça-feira, 15 de março de 2011

estranhos num café, resenha de alguma qualquer percepção desapurada

Talvez só estivesse sozinho demais para querer ficar sentado com a cadeira da frente vazia e a outra metade da mesa limpa; Talvez um isqueiro como pretexto fosse suficiente para espantar a solidão à potencial companhia daquela estranha mulher na casa de seus quarenta e poucos anos, quase cinquenta. Ela, igualmente só. Ambos próximos e desconhecidamente familiares naquela varandinha essencial, apertada, porém essencial. Usava seu par, provavelmente preferido, de oxfords clássicos, bico fino, salto número cinco. 

O isqueiro veio ao encontro de sua mão, carregado pela dela. Foi como se nele estivesse contido o convite, "Sentaí, tô sozinha também, vai". Ou talvez o pedido pelo isqueiro já soasse exatamente como uma pergunta de quem se convida para sentar. Ele se sentou, não precisaram de muitas palavras, fluiu, pá pow, sutil e suave, preencheram a metade que lhes faltava, limpa, suja. É assim, vê? A alma humana.


Vividos, os dois, era bem notável; cansados, sozinhos, ao menos naquele instante, naquela mesa, convite mudo, guerra fria, desejo mútuo, café. Bebiam cerveja, no entanto. Talvez se conhecessem de vista, de frequência, vá saber; de qualquer forma, era a primeira vez.

De qualquer forma, talvez não fosse solidão, apenas, 
talvez um fosse realmente valioso para o outro, 
talvez ainda fossem suas primeiras opções, atração irremediável, insasiável, nada que não o corpo do outro,
nada como aquele belo par de oxfords jogados à esmo e às pressas, 
ou cuidadosamente descalçados, 
com direito a carícias e beijos, lentos; 
clássicos oxfords preto e branco pelo carpete, 
ansiosos, sedentos. 
Desejo. Preenchimento.

                                                                          É, era isso: 
Em qualquer caso, companhia, solidão ou café, 
Preenchimento.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Verdades, à Luz Das Estrelas, Que Repousam Sós Nas Cabeças Embriagadas de Poetas. - Ou - Estrelas, à Luz Das Palavras, Que Embriagam-se Nas Verdades Sós de Poetas Iluminados


Me deito.


Repouso em nós, você não está aqui, mas é como se fosse, como se estivesse. Olhos fechados, e imagino o mundo lá fora. 
Mundo Movimento onde as estrelas iluminam as noites,
noites iluminadas por onde perambulam os poetas, 
poetas embriagados que cantam desses versos sinceros que só o andar etílico tras.



Palavras que, cheirando a álcool, repousam nas próprias rimas, 
rimas submersas e completas nessas profundas verdades que só um bêbado diz.

Estrelas que iluminam os papeis e as canetas; ilumam os pensamentos que em série formam embriagadas palavras; verdades, mentiras inventadas, não importa, é poesia
Poesias que repousam sós à luz das estrelas

poetas que reopusam líricos,
e eu que calma e novamente repouso em nós

segunda-feira, 7 de março de 2011


Sabe?

  É carnaval, todo mundo bem sabe. Muitos igualmente bem sabem dessas angústias de ficar quieto em pleno carnaval, em casa, sozinho. Alheio às marchinhas, festas temáticas, foliões, essas coisas todas, essas festividades que ora fogem às tradicionais, ora não.
   É segunda-feira dessas incrustadas exatamente no meio do carnaval. É humanidade que não pára dentro de mim, é parede que não acaba pra cada lado que olho em pleno carnaval, em pleno planalto central, é, é Brasil e chove lá fora; é carvanaval e chove em mim humanidades mil, chove tudo menos chuva e confete, serpentina. Não é frio nem chuva, nem abraço, nem aperto, é só o meu colchão que me tateia as costas, a bunda, as pernas; o lençol que me acalenta todo o resto. O travesseiro que descansa a mente, uma música tranqüila que esquenta por dentro. Meus pés não resistem a asfalto algum, não marcham incisivos em direção ao chão, e palavras não se dirigem, gritadas, a ninguém, elas calam e personificam-se apenas em escrita. Estou tão só. Tem cinco filmes em cima da mesa, alugados, bons filmes. Tem uma TV há poucos passos, uma Sapucaí, de circo, de pão, de espetáculo, demonstrando toda indústria e beleza e investimento que é esse grande carnaval brasileiro. Mas nem os filmes, nem as escolas de samba; me sinto tão bem e completa em minha silenciosa e pacífica solidão. Pensei que fosse pirar, angústia tal que passou , rapidinha, ligeira e gradativa à medida que aquietando-se foi o meu coração. É que em pleno carnaval minha vida se deu por viva demais e veio me cobrar satisfações sobre o que é exatamente isso que ando fazendo dela e de mim dentro dela. Eu preciso criar, respondi, desculpa, dei-me conta tanto depois.. Ela respondeu, ela disse, vai, se joga, atravessa que a vida é tua e diante da idade do céu a existência é pequena e a importância é enorme
o referencial será sempre o teu, então
Vai.