domingo, 25 de abril de 2010

anseios passionais II

que faço eu, meu deus, com esses pensamentos que andam por demais líricos
e com esse coração carregado de saudade?
Que faço eu, meu amor, se além de certeza alguma
só me resta sentimento?
Que fazer se minha alma de convicção nada possuí
e de poesia tudo transborda?
Meu bem tão próximo e tão longe
fala sobre o amor em linguas de terras distantes,
as quais eu mal sei distinguir,
quanto menos entender!
Palvras de amor...
acho que as sinto, apenas não sei compreender.
Procuro tua presença e encontro teus olhares vastos e por demais vagos pra dizerem qualquer coisa.

amor esquizofrênico

Aceito nosso silêncio com uma cumplicidade pretensiosa, como alguém à espera do som esclarecedor da voz alheia. Aceito teus doces elogios com uma modéstia indiferente, como quem espera por palavras sinceras em meio às convencionais intensões que os acompanham. Entre minhas amarguras e inseguranças, vamos cambaleando desajeitadamente nessa corda bamba de uma comunicação falha. (ponto)

Porém, assim que nosso velho bolero começa a tocar, entramos novamente em sintonia. A proeza de uma boa discussão é descartada, e a linguagem que se focava no mundo das palavras restringe-se a nossos corpos oscilando no espaço.

Atamos nós entre laços e lençóis.

Enquanto confundimos mãos, atritos e suor, as pernas já não sei mais a quem pertencem. Mas isso pouco importa agora, pois me pegaste em tão súbita surpresa que já estava quase dormindo. Me encontro num estágio do sono onde minha mente alcança a lucidez nos próprios devaneios. E como é bom somar sonho e sentido! Retribuo seus gestos com prazer, e ao mesmo tempo, voo. Voo e sonho que pinto quadros de nossas formas orgânicas oscilantes, escrevo sinestesias sobre nossos corpos dançantes. Faço esculturas de nossas almas mundanas que pecam o pecado original na forma sublime de dois seres que se amam no silêncio das respirações ofegantes. Descrevo teu corpo contra o meu nos mais belos sonetos, desenho nossa humanidade nua. Te aperto mais uma vez. Te beijo mais três. Aperto-lhe os cabelos e encaixo minha boca na tua. Comprimo teu corpo mais forte, sempre mais intenso. E é no último movimento que te enquadro em todas as artes e poesias que minha imaginação é capaz de alcançar.

Daí eu paro, me recomponho. Tomo consciência das limitadas proporções do meu corpo. Acordo daquele estágio intermediário do meu sono. Nos fitamos novamente, sorrimos por dentro e você me abraça aquele abraço forte.

Pergunto-me se é do bolero pro abraço que esse amor se estende, ou se de fato esse amor é tão louco que vai desde nossas discussões irracionais às nossas madrugadas de poesias.
Acho que comecei a me reapaixonar por tantas coisas que havia deixado de lado...

palavras me escapam pra dizer algo mais,
mas não tem mal não... pra bom entendedor, uma frase e meia basta.