quinta-feira, 29 de julho de 2010

A Menina que Roubava Livros

Terminar livros que gostamos é sempre um pouco doloroso. É dizer adeus a todos os personagens, a todas as palvras, metáforas e analogias nele contidas. Despedidas, como todos estamos cansados de saber, deixam sempre um rastro de tristeza. Por isso não ousei continuar virando aquelas páginas; por isso fingi não haver curiosidade, por isso a diluí em alguma desculpa esfarrapada que arranjei para pausar a minha leitura. Dormi.

 Então, sonhei. Sonhei com um olhar, eterno e intensamente terno, o qual paralizou-se em alguma página daquele livro que eu nunca mais abri. Sonhei com um acordeão e o velho Hans sentado ao lado da lareira tocando-o, fazendo as notas dançarem e botarem um tantinho mais de cor na vida daquele velho judeu e daquela menina. É, talvez a única vantagem de não mais tê-lo explorado - o livro - é que a menina que roubava livros fosse viver pra sempre.




Acordei. E em um não tão belo dia eu voltei a abrir o livro e o terminei. Depois disso, nunca mais pude sentir cada descrição do olhar do alemão mais doce que havia no Terceiro Reich; ou a maneira como as palavras saíam da boca de Liesel e caíam no chão. Mas, como tudo na vida há de ter um lado bom, aquele livro me deixou toda poesia quanto pudesse exalar. E foi assim, durante dias: eu a cheirava, a transbordava, a via e a sentia em todo lugar que eu ia. O lirismo com o qual uma Alemanha em ruínas era descrita, a suavidade com que um personagem caminhava por aquelas páginas e tocava seu acordeão... Ah, tudo isso assim, só pra mim, eterno quanto a tinta que desenhava aquelas palavras naquele livro que, um dia, eu tive a sorte de começar a ler.

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