sábado, 17 de setembro de 2011

por leveza, por ausência, por nada. nadinha.

Olá,
hoje escrevo por não ter nada a dizer. Hoje me inspiro pela ausência de criatividade e minhas ideias expiram no primeiro revirar de olhos. E meus olhos reviram freneticamente à procura silenciosa dum vazio sinistro 
e meu coração desconstrói a si 
por leveza.

Todo multifacetado, meu coração já desaguado inteiro em sangue
já pulsando em tudo quanto artéria
desata a reconstuir-se na cadência duma ventania que promete chuva,
e lá longe esquecidos, meus fones de ouvido tocam sozinhos
e daqui de longe vendo soltas as notas jorrarem, conhecidas
avivo o olhar e a pulsação como que em notas tais quisesse dançar
e nelas 
inebrio.

E digo pros meus ouvidos aquietarem e deixarem a música desgrudar deles;
eles não querem e dizem
caso pare de soar para dentro de nós,
volta.
E um amigo diz
leva a música na alma
e eu digo que acho graça,
feito simplesmente lúdica,
mas minha boca insiste e esboça um sorriso
meio sorriso feito orgulho de ser,
pois ela bem sabe, pois a alma quando quis sair pela boca
agarrou e levou corpo adentro aqueles acordes, que dos ouvidos não queriam sair,
feito fosse um pedaço perdido de si.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Acontece que essa tal felicidade eu já nem sei

Acontece QUE
Meus sentidos já não me cabem hoje! Não mais... e espero que nem nunca mais...
Ou espero que algum dia, ainda possam.
Ou talvez, pensando bem.. não.
De qualquer forma, espero ao menos, amanhã, poder dizer
'... e não ainda me cabem! Não me cabem, tais sentindos, ainda e não mais!
Pois desde ontem é que eles me enlouquecem numa intensidade humanamente sem fim.'

Pois o encontro me apaixona a toda vez que acontece
e me arde toda vez que se mostra volátil.. tão volátil quanto tudo;
Tão efêmero quanto nada do que eu queria.
Tão palpavelmente real quanto nada deveria ser
mas como tudo o é.
Ou, ao menos, me mostra.

Refém de nossas criações, é isso que somos.

ACONTECE QUE
você vai se perder nessa coisa que você pensa ser
e nessa ideia de felicidade que você pensa viver.
Acontece que você se dará conta que era tão precioso e tão diferente em um encontro,
e você verá que nenhum encontro é igual e que existem pessoas raras, todos nós, aliás.
Mas existem pessoas numa combinação tão peculiar de aspectos
e característica e gostos, e existem combinações tais tão incomuns...
E um encontro bonito como aquele,  também raro em toda sua completude...
não deveria, mas foi
desperdiçado a preço de Escolha.


Acontece que o alcance é relativo e ele se dá por etapas tão interligadas umas as outras
que é impossível premeditar por completo coisa qualquer.
É natural, ação e reação;
já não nos cabe, é muito maior que eu e você,
é muito maior do que a realidade em si, pois ela mesma se reinventa
e perde as rédeas de si mesma;
cria vida, pois é constituída de milhares. 
Bem como aconteceu durante anos até desaguar nos tempos atuais,
exatamente como acontece nesse exato momento até que desaguará nos momentos futuros;
Os tempos passam e as histórias feitas por grandes ou medianos homens,
desatam a acontecer e a fugir do controle.

Até que desaguará na nossa própria decepção a menos que nos demos conta
das ilusões que estamos fazendo uso pra criar as coisas todas como são...
ou continuam sendo...
Bem como dos olhos que fazemos uso pra ver,
bem como dos filtros das representatividades que fazemos uso pra sentir.
Bem como o questionamento se torna vão, pois a cultura e os conceitos já estão tão impregnados
que ou renuncio ao encontro,
ou me adapto.

Acontece que o entendimento parece tão intangível diante das coisas tão aparentemente imutáveis
que nos perdemos nessa sede de ser tudo o que aparentemente devemos...

E nos perdemos nas saudades
pois desaprendemos a entender e abraçar o que existe por dentro. O que é real mas se torna invisível.
A verdadeira sede, o verdadeiro almejar...
Me esqueci o que desejo... é o que me dizem que devo desejar,
ou no fundo eu poderia realmente reinventar minhas formas de querer?
E nos parece que abraçar as possibilidades infinitas que o mundo nos apresenta
é sinônimo de juventude, liberdade, experiência e alegria.
Enquanto esquecemos das essências imutáveis que sobrevivem ao caos das criações contemporâneas, modernas
atemporais e seculares....

Eu só queria sumir do mundo de novo no escuro do seu quarto
e no calor daquilo tudo que traduzia o afeto.

Na saudade do amor
e não seria o amor o que restou de mais sublime? 
esse algo que incessantemente se faz necessário?
Porque é que foges, então? Do que é que foges, afinal?
não percebe que as relações se tornaram o caos que são diante dos tantos conceitos sobre tais?
Diante dos sensos comuns, das restrições às quais estão sujeitas? 
Nas quais nos embriagamos e confundimos
e forjamos sofrimento por uma dor que mal compreendemos?
Que forjamos pequenez diante do que realmente nos apetece?

nós é que atribuimos valores às coisas todas, e só.
Talvez meu desejo mais puro, agora,
seja esse que forjo subversivo a tudo que vejo
(e não seria isso estar vivendo, ainda assim, as coisas ainda impostas?)
Eu quero atribuir meus valores, e não lidar com os previamente postos...
e talvez aí eu encontre, mesmo que longe dos monges, essa tal completude, essa tal felicidade.


Ou não.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Pra ter, pra ser de novo.


 Eu tão Bento, ela tão. Ela Capitu. Capitolina, menina, dos olhos negros feito jaboticaba olhos de vertigem, talvez ressaca.

Queria desenhá-la, descrevê-la em versos, em notas musicais, não sei. É verdade, queria alcançar a poesia que ela merece e traduzir toda cor que vejo, a cor nela e das palavras que ela fala. Gosto de ouvi-la falar e me sinto menino tão Bento perto dela quando ela diz. Por outro lado, tão Casmurro quando ela vai embora, e quando a minha meninice de Bentinho me rouba as minhas próprias palavras quando quero e tento dizer algo para que ela não vá e não consigo e ela vai mesmo assim. Ou quando a palavra amor vem à garganta e eu tão Casmurro contido tento sufocá-la pra ver se ao menos uma partezinha de mim continua intacta, protegida, longe dessa mulher que me apaixona os sentidos e me rouba o fôlego e o olhar.
 Como que conter a palavra Amor ou a frase Eu Te Amo fosse ainda me resguardar de um amor que eu já tanto sinto mas que o fato de ela não saber assim tão profundo  fosse me proteger de alguma dor futura e como se eu precisasse me sentir protegido e inteiro diante dessa mulher que me avassala pois se um dia ela se for eu vou enlouquecer, sei lá, eu não sei o que vai ser de nós, coração, juro que não sei pois juro que tanto procurei e só agora encontrei alguém tão mulher, tão poesia e tão diferente de tudo e todos e juro que não há nada no mundo que roubar-me-á o fôlego como a minha Capitu o faz, ah, tolo, coração, 

tola língua que esconde a palavra amor

mesmo eu  sabendo que caso um dia ela se vá justamente por não saber desse meu amor que tanto temo externar,
 vou enlouquecer de fato
e tornar-me-ei casmurro de vez.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

mais uma vez,


É que hoje eu sou um homem apaixonado e essa música me faz mais sentido.
Hoje, apaixonado, ouvindo uma música que me soa completamente real.
É preciso desculpar-me pois irei escutá-la até que me faça sentir algo diferente de novo. 
Alguma completude perto da que Ela me preenche,  Ela, minha menina, não a música.

Hoje, apaixonado. Homem, não um cara qualquer ou menino apenas. Homem ! Sim, homem como Bentinho pré Casmurro proclamou aos quatro ventos após ser beijado por Capitu pela primeira vez. Homem de verdade. Algo com um sentido diferente também pois não me faz sentir mais másculo, como alguns dizem, mais viril eu só me sinto mais... mais humano. É meio tolo dizer, eu sei, pois quando digo aqui desse jeito, sozinho, me sinto bastante estúpido mas, no fundo, nada posso fazer, afinal, é tudo o que sinto. E é tão sincero e imenso.... E quando escuto essa música e ela me soa real e me sinto homem e tento encontrá-La e entender por que Ela, e tento escrever pra ver se entendo melhor o por que Dela, de ser Ela , de eu ser Dela, ou disso que me chamam de coração, me parecer pertencer somente a Ela. Ah, coração, me diz, me conforta... ou eu é quem deveria te confortar? Tá precisando dalguma coisa? É, eu também. Também não sei, também sinto vertigem,

E a vejo, a vejo lá no fundo desse poço que me causa vertigem.

Imagina uma cena assim de um filme bem bonito. Bem Capitu. Com essa música de fundo, a câmera cambaleando entre o olhar dela, os olhos. Primeiro os olhos. E ela pisca, e olha bem fundo na câmera e no olho de quem vê o filme, e encanta. Um olhar que não apenas olha, mas encanta e causa vertigem. Daí algumas luzes, coloridas, indiretas, uma persiana. A luz que entra e faz caminho brilhante nas partículas de poeira que mais parecem estrelas num universo que se faz dourado. Pontinhos minúsculos dourados com a persiana que filtra a luz num azul periódico que faz fronteira com o dourado... E os olhos dela novamente. Alguém gira, alguém a pega e segura pela cintura e joga ela nalguma superfície macia, um lençol de chita, de retalhos, e ela dança, com as mãos, ela está semi-nua. E mais alguns sorrisos.. E as luzes confundem novamente, e os lenços que a envolvem, já mencionei os lenços? Como Afrodite, a deusa do amor, da beleza, e esses lenços dançam junto com ela e a envolvem e a suavizam... ou seria ela quem os suaviza? Sei que eles se confudem com as luzes e as luzes confundem os olhos de quem vê,


Isso. Isso assim mesmo. Com a música bonita e as imagens cores confundidas provocando sinestesias e conforto. Eu sinto. Consigo ver os lábios dela sorrindo, os lábios chamando, os lábios e os olhos e a vertigem e a forma como tudo me chama e a música e eu homem, hoje, entorpecido diante dela tão mulher e eu tão menino.  Eu tão Bento, ela tão. Ela Capitu. Capitolina, menina, dos olhos negros feito jaboticaba olhos de vertigem, talvez ressaca.

Queria desenhá-la, descrevê-la em versos, em notas musicais, não sei. É verdade, queria alcançar a poesia que ela merece e traduzir toda cor que vejo, a cor nela e das palavras que ela fala. Gosto de ouvi-la falar e me sinto menino tão Bento perto dela quando ela diz. Por outro lado, tão Casmurro quando ela vai embora, e quando a minha meninice de Bentinho me rouba as minhas próprias palavras quando quero e tento dizer algo para que ela não vá e não consigo e ela vai mesmo assim. Ou quando a palavra amor vem à garganta e eu tão Casmurro contido tento sufocá-la pra ver se ao menos uma partezinha de mim continua intacta, protegida, longe dessa mulher que me apaixona os sentidos e me rouba o fôlego e o olhar.
 Como que conter a palavra Amor ou a frase Eu Te Amo fosse ainda me resguardar de um amor que eu já tanto sinto mas que o fato de ela não saber assim tão profundo  fosse me proteger de alguma dor futura e como se eu precisasse me sentir protegido e inteiro diante dessa mulher que me avassala pois se um dia ela se for eu vou enlouquecer, sei lá, eu não sei o que vai ser de nós, coração, juro que não sei pois juro que tanto procurei e só agora encontrei alguém tão mulher, tão poesia e tão diferente de tudo e todos e juro que não há nada no mundo que roubar-me-á o fôlego como a minha Capitu o faz, ah, tolo, coração, 

tola língua que esconde a palavra amor

mesmo eu  sabendo que caso um dia ela se vá justamente por não saber desse meu amor que tanto temo externar,
 vou enlouquecer de fato
e tornar-me-ei casmurro de vez.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

término

É uma pena, rapaz. Isso tudo é uma pena tremenda.
E essas frases prepostas são apenas uma síntese do que me preenche quando penso em você.

A gente se perdeu, boy. A gente perdeu algo precioso de nós ao longo do caminho. Pensando em tempos passados, parece mais que vi em alguma tela de cinema, vi de longe ou só idealizei o que vivi naquelas noites no telhado tão cinematograficamente reais. Até parece que o céu não se punha sobre as nossas cabeças, nem a lua, clara, iluminava-nos sutilmente o epitélio. Não parece nem mesmo que a cidade transcorria até o horizonte desenhada em pontos luminosos se fazia real diante dos meu olhos, parecia mais sonho... como que não fosse eu vivendo os primórdios das coisas todas. As premilinares do caos que nos tornamos. E pudera eu fazer delas as nossas maiores vivências, lembranças, sei não... Mas puderas eu, deveras, fazê-las mais reais do que as memórias todas que me ocupam os pensamentos. Pois tais resumem-se às recentes, caos e dor. 

'isso e ócio'

Convencer-me do contrário? 
Nem você poderia.
Aliás, duvido que palavra alguma de salvação, saudade ou partida possa romper essa membrana na qual você se esconde.
Súplica, perdão? 
Talvez.
Ou não.
Passionais, por mim, esvaziam-se diretamente ao papel essas palavras - as quais, um e outros tantos dias, dirigira-as a ti na esperança de qualquer coisa -, maculadas pelas ilusões todas e tamanhas do ego, e corrompidas pela natureza humana do mesmo.

Tendenciosas percepções.


Tais minhas, tais tuas. Incontáveis vezes, delas fizemos uso para proclamar a carência interna de coisas quaisquer. Insaciáveis em nós nos tornamos e insistíamos em buscar um no outro o preencher das lacunas.
Problema: não estavam vazias, mas deterioradas, corroídas. E talvez fosse desespero por demais assumir humildemente a podridão interna e, sendo assim, proclamar consciente e, coração adentro, a percepção da podridão tal;
assim, calávamos a autopercepção maquiada em sentimentos de cobranças. Nos sentíamos vazios e culpávamos um ao outro. Justificávamos que isso se dava devido a esvaziamentos mútuos, um ao outro através de intermináveis cobranças ... Nhaca, balela

Eu desesperava por tentar arrancar-lhe algo, 
expressão reconhecimento
enlouquecia ao te ver bloqueado, ainda assim
imerso, ainda tanto
Estagnado a ponto de que, no fim, por imensa tristeza sem já não conseguir esconder no semblante o sentimento, tapava os olhos inchados de dor com as mãos, tais na função de fronteira última da sua expressão e entrega. 

Lá a gente se despedia
e você ainda ausente, se escondia.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

desabafo de segunda


uma imagem de três homens maltratando um gato se fez real, de repente. a internet tem dessas coisas. o gato tá indiferentemente pendurado por uma corda que lhe enlaça o pescoço. tiraram toda a pele dele. e riem. sorrisos orgulhosos, sinistros e isentos para a pose. os membros ainda colados ao couro, as patas coladas ao que ainda lhe resta de pele, e talvez uma vontade de viver ainda agarra-se, isso se é que ainda se encontra vivo, ao que lhe resta de carne e vísceras. enlace tal que forma um círculo irregular onde um dos homens se posiciona estratégicamente para sair no retrato. é de dar dó. não só do gato, mas de todos. dos homens, do motivo obscuro. por quê? falta do que fazer, sangue frio. às vezes a realidade para eles é dura demais para que a simples vida de um gatinho lhes faça diferença. vai saber. me entorpece pensar em como nos perdemos nesse caótico labirinto contemporâneo calejados por demais para sentir qualquer coisa. compaixão?

de repente, uma criança começa a chorar debaixo da minha janela. desconheço o motivo, sei que desatina a chorar e dizer que dói, algo dói, dói muito e não sei se é a mãe impaciente que lhe agarra as orelhas, ou se é algum machucado recente que arde na superfície da pele. chora chora e me entorpece ainda mais a imagem do gato, o pranto da criança; dá uma ãnsia lá no fundo, vontade de chorar, dá um medo. insegurança. mas não é isso. não é bem isso. Não choro. O buraco é mais embaixo, penso, só não sei bem aonde, nem sua origem, sei que é. Sei bem o que me aflinge, apenas não identifico ao certo a natureza da minha reação; perplexidade descreveria bem, mas é mais. Toca Rosa de plano de fundo. música das belas. composição recente duma parceria dessas que só poderia dar certo - a meu ver, pelo menos . sei que ela contribui para esse estado em que me encontro. é música dessas que faça sol ou faça chuva, tempestade ou calmaria, te bota em estado de contemplação e cabe em qualquer sentimento gostoso, epifania ou tristeza. volto ao gato. o pranto infantil já cessou e não me cabem mais sensações tamanhas, por isso escrevo. já que não me tangencia cessar dor de gato algum, humanizar alma nenhuma... faz frio
e me entorpeço
e continuo a não entender

sinto uma ligeira descrença como quem não consegue tangenciar nada que anseia...

domingo, 24 de abril de 2011

uma porta pensamento

Era dia claro. Andava na rua feito o sol me causasse alergia. O céu que via agora nem parecia aquele que tempos antes de o sol se pôr no dia anterior, era de temporal e nuvens grotescas. O dia claro do qual falava e pelo qual andava na rua, fazia nele um céu azul azulzinho como há tempos não o era, como que o azul e a ausência de nuvens monstruosas e negreas rissem, agora, de nós.


No meio do caminho, em meio a um pensamento, interrompendo-o, havia uma porta. Armação de ferro, o resto de vidro. Vitrais; branco, azul, verde, rosa, tudo bem colorido, translúcido, porém, fosco, à medida que não se via concretamente o que havia do outro lado. Que dava para um outro lado dava. A questão era que tanta luz passava, tanta mas tanta, que tive a impressão de que a porta não levava ao interior de coisa alguma; era uma epifania que levava a si mesma, uma porta que levava para onde ela mesma se abria. Um pensamento confuso que à luz revelava, conclusão repentina, resposta encoberta pela própria pergunta.

É de sutileza e brilho e luz que seus olhos me revelam

É cidade lá fora. Os resquícios das luzes de lá, a nossa pele é que absorve.

  os olhos não


Penso nos olhos. Vai saber o que enchergam de diafragma escancarado e de pálpebras lacradas. Penso na viagem da luz até aqui. Milhares de fótons, onda eletromagnética, energia pura. Chega em filetes pelo filtro da persiana. Finas faixas brilhantes que se moldam ao - e caminham pelo - nosso corpo, desenhando as minhas curvas às tuas mãos. Pele pálida à luz listrada, cor periódica, gato da Alice de luz e breu e formas humanas.

os olhos, agora sim
ouso abrí-los
Deixo ir o breu da visão 
breu tal que me era todo preenchida pelo tato e pela imaginação, 
Concretizo, enfim, ao abrí-los, a fotografia listrada das nossas peles juntas deitadas à meia luz
já é crepúsculo, e só me importa que é de ouro e pequenas faixas luminosas que o mundo se desenha
enquanto a gente finge dormir, enquanto buscamos recuperar um fôlego há muito ausente
ofegante e cansada, só assim

Te vejo por detrás e por entre duas faixas escuras que lhe delimitam o olhar. É de luz que seus olhos se revelam; e é tão bonita a tua retina refletindo luz direta, dá pra vê-la toda em detalhes, tudo bem orgânico; cor castranho claro toda pigmento, azão-azinho, receptores orgânicos de luz. Vai saber o que pensa por detrás dessa retina, sei que eu, bom, Penso assim: É de brilho e luz que seus olhos me mostram... Não me ocorre palavra para o que exatamente revelam, me eslcarece apenas uma pequena descrição falha pro que vejo... vem assim: tão sutil

segunda-feira, 18 de abril de 2011

parte um



Foi ele quem disse primeiro:
     - Chega uma hora que toda discussão perde o sentido... perde a razão de ser e de doer.

     Estavam sentados à pequena mesa da cozinha, à meia luz, há pouco depois de meia noite; Ela assentiu com a cabeça à constatação de que, realmente, haviam perdido a razão, haviam, na verdade, perdido um ao outro na hostilidade do amor condicional que no momento se resumia apenas em cobranças num desafeto todo banhado de egoísmo e auto-proteção.
     O ar estava frio, ambos retidos em si, em suas próprias vergonhas e medos como duas cargas elétricas de sinais opostos num ambiente de condutividade quase nula; bloqueavam a si mesmos, eis a verdade. Era desanimadora a cena, mal olhavam um para o outro, estagnados, pois. Cansados. E ainda detentores de um amor imenso; amor calado no momento, bem verdade, assim tímido, doído, exausto... Ele insistia em dizer que, se não fosse Ela, não seria mais ninguém, era bem provável mesmo; Ela imaginava que se não fosse Ele, talvez fosse outro alguém. Porém, sendo Ele, era singularmente especial. E ela sentia essa singularidade talvez por que estava mais madura que nos relacionamentos anteriores, talvez pela peculiaridade, mesmo, ali clara, assim evidente, de algo muito maior que o próprio entendimento; talvez por saber e sentir como de fato ele a havia escolhido e a forma com que ela foi ficando e se encaixando naquele encontro.. O querer e a gratuidade eram evidentes. Ela sabia e sentia e, naquela noite à mesa da cozinha, ela teria certeza.
     Os olhos permaneceram baixos, de ambos, não ousavam fitar-se. As mãos é que iam de encontro a um lugar comum, aos poucos, numa interação suave, iam-se tocando e interagindo; um dedo, depois outro, e outro, e outro ... Ela fitava aquele tímido diálogo de tato e movimentos lentos de olhos paralisados, ainda baixos e úmidos, salgados e imersos em beleza; tornavam a se encher e transbordar, ainda mais salgados, úmidos e molhados, achavam lindo o vagaroso entrelaçar das mãos. Vezenquando, as mãos, apertavam-se forte como que ali quisessem fundir, depois voltavam às carícias sutis, namoravam-se como que dotadas de vida própria. A respiração ia sufocando, pouco a pouco; o fôlego se esvaía inversamente proporcional à área de contato entre pele e outra; entre dedos, apenas, avançavam às mãos, inteiras. Avançavam membros acima, antebraço, braço, ombro, nuca, cautelosamente tateando mais afundo a alma
                            Como se o calor do toque alcançasse o coração e o esquentasse, bem como as bochechas e as coxas, narizes e pés. Ele, de pálpebras atadas, entregue àquelas mãozinhas que apaziguavam-lhe a dor, deixando-as desvendar-lhe o epitélio; tentava, por pouco, conter a excitação que aqueles gestos lhe proporcionavam, por pouco, apenas, pois logo deixava-se ser, entrega plena. Sua pulsação lhe açoitava os sentidos numa freqüência tão maior que a velocidade baixa daqueles movimentos, daquelas mãos... O mundo..... parado....... o tempo, lento, e dentro de suas carapaças orgânicas tudo acontecia. Absorveram o mundo para si mesmos através de um simples gesto mútuo, era bonito e singelo, era ser humano fazendo jus à poesia inerente das emoções orgânicas.

     As mãos dela alcançaram o rosto dele, finalmente o rosto, enquanto as dele permaneciam entorpecidas: na nuca, uma. Contra a mão dela, outra. A ponta de um dos indicadores dela desvendavam-lhe os traços, desenhava seu rosto em calor seguindo o contorno dos olhos, a curva do nariz, os lábios principalmente, num ato redundante de pura contemplação. Envolveu-lhe o rosto com as mãos inteiras; palmas das mãos comprimindo as bochechas como quem dizia Deixa eu cuidar de você; e ele de olhos fechados parecia se embriagar nalguma coisa e ela filmava tudo com o olhar e era tão sutil.... Ele beijava as mãos dela como que estivessem para desaparecer para sempre; as envolvia com as próprias comprimindo-as contra as bochechas, a boca, seus beijos; as encaixava no próprio rosto como que o fizessem completo ; ele sabia, assim, de olhos ainda atados, ele sentia: não eram exatamente as mãos em si, era de onde vinham e o que diziam. E ela, de olhos ainda entorpecidos, também soube; era carinho carinho carinho por demais que mesmo que não fosse ele e fosse um outro alugém, era ainda assim carinho carinho por demais para ser qualquer um, não era, pois, acaso completo
Era encontro, e querer, um querer imenso

terça-feira, 22 de março de 2011

um devaneio rascunho descrente

; Deus,
esse Deus de quem tanto falam não me soa apenas como um escape,
mas também, como um pretexto.

Pretexto para equacionar a culpa, dividir o fardo de liberdade tamanha.
- intervimos, nós homens, o tempo todo na realidade que nos cerca, tragamos o mundo que nos é apresentado e interagimos com ele, modificamos, ou não, nossas realidades, escolhando formas diversas de intervenção; temos escolhas infindas, e navegamos à merce e à medida delas. Vez ou outra, parece que nos foge do controle; vê? Tantas coisas que parecem fugir do controle... do tangível. Nós que alcançamos respostas tão profundas, ainda deixamos escapar. Nunca sentiu que algo lhe fugiu do conrole? E não seria esse eterno vaievem, concepção e criação, cópia, modificação, escolhas, que, afinal, nos "defnine" no mundo? Livre arbítrio? Talvez sejamos mais responsáveis do que imaginamos; verdade. Mais responsáveis do que concebemos, porém, menos capazes do que pretendemos, tantas vezes. Relavitidade eterna. Talvez, ainda e no fundo, saibamos disso.

Então louvamos aos céus,
como que lá houvesse um regente maior para nossas incontroláveis façanhas; ufa, dizemos, amém.
E projetamos nossas locuruas e salvações num todo bem maior que pensamos não nos caber;
seria esse, afinal, o ser humano endeusando a própria existência? Admitindo o milagre de estar vivo? E, ao mesmo tempo, limitando a prórpia liberdade? Homem que quer ir tão longe, admitindo suas limitações?
Sim, talvez!,
penso também que é medo de perder a razão e o sentido no mundo e, ainda mais
medo de perder o controle e ser responsável por catástrofes maiores.

Então, louvamos aos céus
Sem vislumbrarmos que, na verdade, somos nossos prórpios deuses e
nossas vontades, nossa própria religião.


dissipo-me, no medo de pretensão maior
deixo minhas convicções pra depois,
já, as dúvidas, para todo o sempre
hasta luego

segunda-feira, 21 de março de 2011

só, que, vermelhos, quentes, lábios. alguém?

É só que...
É só que hoje, meus lábios, tão vermelhos...
Hoje meus lábios tão tão vermelhos e quentes estão que...
eles só queriam...
Eu só queria...
Eu,
beijo
só.
Que.
Alguém que os surpreendesse com tamanha vermelhidão
quero dizer, alguém os surpreendesse com imenso beijo
surpreendido com tamanha cor
ou melhor! impressionado, esse alguém, com tamanha cor
os imaginasse tão quentes...
tão tão quentes, que quisesse beijá-los...

Quero dizer

É só que hoje, de lábios rubros e quentes,
desejo alguém que os - meus lábios, desejasse beijar

sábado, 19 de março de 2011

de manhã, feito algo imensamente humano

Não sei que horas são. Não tenho vontade nem meios de saber, verdade. Sei que é manhã, e sábado, visto que meu corpo pesa sob meus olhos atentos. Permaneço, assim, atemporal no que tange a exatidão numérica dessa convenção relativa ao que "passa", quero dizer, ao relógio. 

Sinto sono, mas não me acabo por isso. Meu corpo não me parece derreter como frequentemente ele o faz, minhas pálpebras, distantes, rígidas, assim permanecem. É, né? "Confusa" anda sendo uma denominação recorrente para as façanhas ideológicas da minh'alma. No entanto, não me é certo se é mesmo a palavra que melhor me expressa... agora, assim. Desconheço definição mais exata, eis a verdade. Verdade maior é que desconfio de tal existência, bullshit 
definições exatas, eu, pensamento, sensação, isso não existe assim. 
Alma tola, humana, cansada  (porém nem tanto), louca (às vezes, por demais) e exaustiva (bem verdade, quando Ego). 

Ego, traição. Detesto o modo pelo qual me apego aos valores que me rondam, a forma com que me irrito diante de mim mesma absorvendo ações alheias e atribuindo-lhes valores mais ou menos importantes; atribuições desnecessárias, dor sintética, forjada, felicidade burra, ilusão - não sei até que ponto acredito de fato, não sei o limite no qual me atrevo forçar acreditar - e esta, ainda sim, ainda dor, arde. Me dói inteira. Depois me ri; me delicio e danço feito algo imensamente suave sob todas as representatividades de mundo que me são tangiveis. 

A cabeça,
a nossa cabeça faz isso com a gente.


Ôôôô raiva dessa cultura que pulsa em minhas veias, ô angústia!


Ver quem se gosta assim longe, vontade de estar perto; desconhecer o motivo exato para tanta lonjura, Compreendo perfeitamente as condições atuais de "temperatura e pressão", mesmo que meu coração não o queira. Mentira, talvez ele entenda, a questão é que ainda reluta. Anseia e sente saudade, desejo, sente vontade. Pois é rápida a saudade que dá assim que Ele se vai. Mesmo sabendo que amanhã Ele vem de novo, e daqui a pouco, e depois. Mesmo que, em palavras, alguma projeção de amor me seja enviada. É vontade de estar junto, voltar ao tempo de segundos enormes e profundos de presença. 

É, acho que é esse o motivo. Chega sexta-feira à noite e, por cansada, evito a solidão. Não quero, por Deus, estar só enquanto o mundo não está. Enquando Ele não está. Incomoda-me a sensação de sentir como que não quisessem a minha companhia. Sei que a verdade não é bem assim, com essas palavras, mas sei que independentemente das palavra, ausentes ou não, o convite não foi feito. E não é, necessariamente por ser Ele, mas por Ele ser alguém tão próximo.

Preciso deixar isso ir. Essa limitação que sinto. Sim, sinto-me limitada por todos os lados, por toda vontade e desejo, algo me comprime. 


Pouco me alivia compreender a superficialidade dessas questões, sinto-me lúcida por demais por compreendê-las dessa forma, conheço a natureza egóica delas e ainda assim teimo por engolir valores externos que, misturados à minha agonia, alimentam meu ego feito gordice mesmo, responso à ansiedade botando o pé pra fora do silêncio. Aceito um convite que, mesmo que não Dele, me é feito. É convite, é doce. doce doce doce e reconfortante estar ali fazendo parte do movimento, da massa que se desloca variavelmente ao longo do tempo e através do espaço.

Ele
não há sinal de vida. Tudo bem. Eu não quero. Só queria a tranquilidade de alguma certeza menos imunda e impergnada de ego e projeções suspeitas. Tempos de instabilidade, bem sei. Ânsia! Porém, me aborreço e passa, e dramatizo pra ficar bonito, poesia. Vou transcender, penso, vou confiar. Se um dia me derem motivos para invalidar esse voto, eu o retiro e supero a dor, vou em frente. Haverá sempre sol, e calor e chuva e filmes, livros, bocas tortas sorrindo, amor pelas entranhas, gente chata, gente insuportável, gente estúpida e bitolada, gente metida, feia ou bonita, amigos, Caio, a arte, poesia 
isso me aconchega no mundo e, por ele, vou, navego, oscilo - todos esses verbos que, ora denotam, ora conotam o  doce, suave, áspero e ardido  ir pelo mundo.


.  .  .

"... não consigo, não quero ou finjo não poder decifrar."

.  .  .



Numa vertigem louca e profunda
e de repente sentir-me suave e distante de novo, doce doce doce
é sempre doce
e sempre depois do tormento, me amenizo inteira


.  .  .

"Agora agora agora vou ser feliz, eu repetia. Feito dor, não alegria. Agora agora gora. E forçava os olhos pelos cantos pra ver se refletia....
querendo agora já urgente ser feliz"


.  .  .


o amor eram dos dragões de Caio, isso me arrepiava inteira
era gigante o meu torpor no escorrer das palavras. lindo isso
paixão demais, dragão imenso.

eu tenho um dragão em casa, eu diria a ele, a caio
e ele, senhor c.,
está sempre sempre sempre presente, meu dragãoamor
pois mesmo sem Ele, Ela, os Outros, Terceiros, Alheios
o mundo por si e dentro de mim, me apaixona
paixão demais, dragão imenso.

(alimentado por: Os Dragões Não Conhecem o Paraíso, conto e livro - CaiofernandoAbreu)

terça-feira, 15 de março de 2011

estranhos num café, resenha de alguma qualquer percepção desapurada

Talvez só estivesse sozinho demais para querer ficar sentado com a cadeira da frente vazia e a outra metade da mesa limpa; Talvez um isqueiro como pretexto fosse suficiente para espantar a solidão à potencial companhia daquela estranha mulher na casa de seus quarenta e poucos anos, quase cinquenta. Ela, igualmente só. Ambos próximos e desconhecidamente familiares naquela varandinha essencial, apertada, porém essencial. Usava seu par, provavelmente preferido, de oxfords clássicos, bico fino, salto número cinco. 

O isqueiro veio ao encontro de sua mão, carregado pela dela. Foi como se nele estivesse contido o convite, "Sentaí, tô sozinha também, vai". Ou talvez o pedido pelo isqueiro já soasse exatamente como uma pergunta de quem se convida para sentar. Ele se sentou, não precisaram de muitas palavras, fluiu, pá pow, sutil e suave, preencheram a metade que lhes faltava, limpa, suja. É assim, vê? A alma humana.


Vividos, os dois, era bem notável; cansados, sozinhos, ao menos naquele instante, naquela mesa, convite mudo, guerra fria, desejo mútuo, café. Bebiam cerveja, no entanto. Talvez se conhecessem de vista, de frequência, vá saber; de qualquer forma, era a primeira vez.

De qualquer forma, talvez não fosse solidão, apenas, 
talvez um fosse realmente valioso para o outro, 
talvez ainda fossem suas primeiras opções, atração irremediável, insasiável, nada que não o corpo do outro,
nada como aquele belo par de oxfords jogados à esmo e às pressas, 
ou cuidadosamente descalçados, 
com direito a carícias e beijos, lentos; 
clássicos oxfords preto e branco pelo carpete, 
ansiosos, sedentos. 
Desejo. Preenchimento.

                                                                          É, era isso: 
Em qualquer caso, companhia, solidão ou café, 
Preenchimento.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Verdades, à Luz Das Estrelas, Que Repousam Sós Nas Cabeças Embriagadas de Poetas. - Ou - Estrelas, à Luz Das Palavras, Que Embriagam-se Nas Verdades Sós de Poetas Iluminados


Me deito.


Repouso em nós, você não está aqui, mas é como se fosse, como se estivesse. Olhos fechados, e imagino o mundo lá fora. 
Mundo Movimento onde as estrelas iluminam as noites,
noites iluminadas por onde perambulam os poetas, 
poetas embriagados que cantam desses versos sinceros que só o andar etílico tras.



Palavras que, cheirando a álcool, repousam nas próprias rimas, 
rimas submersas e completas nessas profundas verdades que só um bêbado diz.

Estrelas que iluminam os papeis e as canetas; ilumam os pensamentos que em série formam embriagadas palavras; verdades, mentiras inventadas, não importa, é poesia
Poesias que repousam sós à luz das estrelas

poetas que reopusam líricos,
e eu que calma e novamente repouso em nós

segunda-feira, 7 de março de 2011


Sabe?

  É carnaval, todo mundo bem sabe. Muitos igualmente bem sabem dessas angústias de ficar quieto em pleno carnaval, em casa, sozinho. Alheio às marchinhas, festas temáticas, foliões, essas coisas todas, essas festividades que ora fogem às tradicionais, ora não.
   É segunda-feira dessas incrustadas exatamente no meio do carnaval. É humanidade que não pára dentro de mim, é parede que não acaba pra cada lado que olho em pleno carnaval, em pleno planalto central, é, é Brasil e chove lá fora; é carvanaval e chove em mim humanidades mil, chove tudo menos chuva e confete, serpentina. Não é frio nem chuva, nem abraço, nem aperto, é só o meu colchão que me tateia as costas, a bunda, as pernas; o lençol que me acalenta todo o resto. O travesseiro que descansa a mente, uma música tranqüila que esquenta por dentro. Meus pés não resistem a asfalto algum, não marcham incisivos em direção ao chão, e palavras não se dirigem, gritadas, a ninguém, elas calam e personificam-se apenas em escrita. Estou tão só. Tem cinco filmes em cima da mesa, alugados, bons filmes. Tem uma TV há poucos passos, uma Sapucaí, de circo, de pão, de espetáculo, demonstrando toda indústria e beleza e investimento que é esse grande carnaval brasileiro. Mas nem os filmes, nem as escolas de samba; me sinto tão bem e completa em minha silenciosa e pacífica solidão. Pensei que fosse pirar, angústia tal que passou , rapidinha, ligeira e gradativa à medida que aquietando-se foi o meu coração. É que em pleno carnaval minha vida se deu por viva demais e veio me cobrar satisfações sobre o que é exatamente isso que ando fazendo dela e de mim dentro dela. Eu preciso criar, respondi, desculpa, dei-me conta tanto depois.. Ela respondeu, ela disse, vai, se joga, atravessa que a vida é tua e diante da idade do céu a existência é pequena e a importância é enorme
o referencial será sempre o teu, então
Vai.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Fica no mínimo no Máximo uma Noite


Pode aproximar
Pode reagir
Pode admitir
ou nem perceber

Pensei tanto em você hoje, enquanto corria. O shuffle me mandou uma música que me lembrou daqueles tempos em que eu andava confiante, segura, autoestima lá no céu, naqueles tempos em que você me rondava com alguns telefonemas, mensagens, desses romances suaves, de aparições repentinas, sem compromisso. No meu caminho rotineiro, PLAP tocava constantemente, dava alegria danada, confiança, tempos bons. Na ida, na volta, interrompidas pelas suas buzinas, pelos teus convites de carona, alguma coisa assim, carona rápida, tão rapidinha que mal trocávamos palavras, e eu dava graças a deus por não ter tempo mesmo de trocá-las muito profundamente.

Quando ela chegar
Vai doer no olhar
Vai modificar
a luz dessa noite

Nós, sem muito compromisso, minha razão pertencia a outro, você bem desconfiava. E eu bem sentia. E mais palavras. Palavras compartilhadas, palavras trocadas, lúdicas, misteriosas, cheias de segundas intenções, trocadilhos de dar frio efêmero na barriga. Lembrei dos teus convites, dos que eu recusei, dos que calei, de tudo sobre nós que foi calado e consentido. Aliás,
acho um tanto engraçado dizer 'nós', pois, na verdade, não houve. Havia você e eu e uma vontade imensa de um grudar no outro. De descobrir e ver aquela tua expressão de gozo, aquela tua cara... E no dia seguinte seguirmos como se não havíamos sido, pois não havia nós que não fossem além das nossas pernas atadas. 
Bem verdade.

Se eu olho para o sol é pra cegar o juízo
Também não tem como fechar o olho pra você
Freiou a madrugada
é só um pouco disso tudo que eu preciso

Mas eu sabia. Quando tu lembrava de mim e me chamava pra te ajudar a escolher uma roupa, tomar um café ou pra ver o céu que era bonito de onde você morava, eu sabia que quando você me escolhia tantas vezes entre tantas outras bonitas a quem renunciava, eu sabia. Sabia pelas suas palavras, pela forma delas. Sabia principalmente pela frequência com que elas vinham, famintas e em como demonstravam esse teu medo imenso de se entregar de novo para um outro alguém, pra não se doer, pra não se ferir, ferir teu ego gigantesco, vaidade imensa.

Não tem como evitar
Nem pronde correr
Pode recuar
ou entrar no clima

Nunca me foi tão direto assim esse teu potencial apego, mas eu soube mesmo tempos depois, tempos em que não havia mais nem resquícios de você em lugar algum. Quando tu chegou e disse bem diretamente que eu podia ter sido aquele seu alguém, eu podia ter ferido aquela tua vaidade pois você teria reagido e grudado mais em mim. Que eu poderia ter ido mais a fundo com as minhas palavras escritas, pois você se embriagaria nelas todas até me recompor inteira na essência da cada uma. Porém, eu, embriagada por demais pra sentir compaixão, ou pra lembrar de algum possível desejo, ri. Ri e falei que com você, jamais. A gente era desejo puro e só , eu não me lembrava
e ri de novo.



Quando ela chegar
Vai te convencer
Que é melhor ficar
aqui essa noite

Porém hoje eu lembrei de ti e senti vontade de te tocar com alguma frase de efeito que te traria tão rápido como que traduzisse uma sede imensa e então eu diria Me leva pra ver as estrelas que são tão bonitas lá de onde você mora, e teríamos um ao outro novamente e poderíamos
até beber um vinho
até o sol amanhecer 
até o dia em que uma possível lembraça acompanhada de vontade me ocorresse de novo e eu te pedisse

Fica no mínimo

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

carta

   Enquanto eu vagava por entre as plateleiras da Livraria Cultura, notei que Portishead tocava e que soava um pouco diferente aos meus ouvidos. Posteriormente fiquei sabendo que era um show deles ao vivo com orquestra, coisa boa.
   Lembrei de você. De nós, algumas vezes...
   Fui procurar um vendedor. No primeiro balcão que vi pela frente, parei, onde, por acaso ou coincidência ou destio, constava o CD pelo qual eu perguntava - e no exato momento em que iriam trocá-lo por outro. O vendedor falou que iria pegar um lacrado pra mim e, num instantinho depois, voltando de mãos vazias informou-me que aquele era o último exemplar. Achei graça. Comprei na hora. Entende?
   Todos aqueles acasos improváveis que me levaram ao tal CD. O fato de ter sido o último, o fato de que quando eu entrei na loja, me intrigou... Caso eu tivesse enrolado dois ou três minutos, no máximo, pra chegar ali, eu muito provavelmente nem pensaria em Portishead, muito menos saberia da existência de um exemplar tão peculiar.

Achei graça. Pensei nesses acasos que me botaram ali, e também nos acasos e não acasos que te trouxeram a mim. Pensei em como não por acaso, mas pela ordem natural do fluir das coisas, "pela lei natural dos encontros" e também por mérito próprio, fui gostando do seu ficar. Escolhendo estar por perto, mesmo que muitas vezes confusa, ou desconfiada, ou... Sei que foi assim, e foi aí que eu ri por acaso ou não, por coincidência ou destino, desses acasos e encontros que me aparecem. Esse CD me intrigou e eu o comprei pra você lembrar de mim. Pois eu, ogânica humana, passo. A música não, e nela eu permaneço até onde você permitir.

e Glory Box ainda tocar vezenquando os seus ouvidos ou o coração e por isso em algum lugar você me vir, me encontrar, nalguma memória, lembrança, fotografia ou até mesmo nalgum lugar onde teu olhar me alcance. só isso. espero que goste.


te amo

encontro

Eu quero respirar o ar que sai dos pulmões alheios
Eu quero a linguagem empírica, humana
O suor e o sujo
a saliva
Eu quero o aberto, o aperto, o amasso
o cheiro e o fluxo
Eu quero o encontro de fato

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

eternidade e algumas coisas quaisquer

Carinho, cairnho, carinho

posso resumir essa qualquer coisa abstrata que me passeia pelos pensamentos sobre nós, a isso? Carinho, carinho, carinho. Deixar de lado esse arder que sinto e fazer-se apens compaixão.
compaixão
(suspiro)
Gratuidade. Leveza. Se não funcionar pra ti, benhê, tento outra vez nalgum labirinto afetivo de um outro alguém. Tá cheio de labirintos por aí, sabia? Essas pessoas todas, nós, isso tudo, somos todos um grande labirinto enquanto o mundo é plano e claro. A gente pensa que vê, que descomplica, que sente dor, culpa, que ama. (pausa,
suspiro)
mas é tudo ilusão,
(sorriso)
tudo culpa desse labirinto emaranhado no qual transformamos nossas alminhas indefesas e confusas. Humanas. Humaninhas, frágeis, Racionais. A razão também me parece uma fuga, desse ponto de vista em que me encontro, desse lado de cá da janela, enquanto o mundo deságua lá fora, a razão me parece um escudo. Uma força a mais, e me parece certo fazer dela um escudo. Confortável, ao menos. Tá certo, não tá? Não há escapatória, ou você vive ou vive. Quero dizer, ou não vive. Mas é sério, para chegar à conclusão de não viver, vive-se bastante. Ou pelo menos, sente-se bastante. Viver é também sentir. Viver... Além de pensar, objetivar, planejar e blá. Enfim, bom, se você vem e me diz que escolhe estar aqui não há religião nem ideologia nem livro nem razão nem sentimento que te livre da bela, gratuita, pequena e passageira oscilante vida dor amor sorriso frieza luta viagem prazer ímpeto instinto hedonismo estudo e lá vai pedrada.
È tudo muito frágil, não percebe? A natureza é dura, entropia, tem suas leis, ela flui e leva a gente com ela. O negócio é que a gente entra em desespero e nossa cultura não possui mais tantas facetas para a morte das coisas, e a gente sente. Desmistificamos as culpas distantes dos céus, dos deuses e, agora, desesperamos diante do Não-Mais, do adeus, do passar. Mas se escolhemos viver, escolhemos passar. É isso, amigo. E a saudade do passar por vezes dói, por vezes não. Tem gente que endurece por dentro. Tem gente que não. Convença-se ao menos de uma coisa: tudo flui, passa, morre. FIM.

Voltando aos labirinto afetivos presentes nas pessoas.. bom, sonhei outro dia que num labirinto qualquer uma esfinge me perguntava sobre o amor, e não sobre a razão.... e daí, então, talvez, quem sabe, eu me encontrava no emaranhado certo pra mim, que completava e se entrelaçava ao meu. Pois por vezes penso, e isso é muito frequente, que toda essa eternidade que desejo agora com você é a mesma que desejei no meu afeto passado. E é a mesma que desejarei nos seguintes. (QUE? Seguintes? Não há futuro sem você, coração, coisa linda, meu amor, você é o meu amanhã e todos os outros até o fim) É como se o presente fosse para mim uma projeção de um desejo enorme de ser sempre assim. Entendeu?
E que quando você for-me embora, ou quando eu quiser que você vá, ou quando eu quiser ir, bem, daí eu vou me descabelar todinha, desejarei o fim de mim mesma, ou não, talvez fique apenas um pouco perdida até me encontrar um novo afeto, talvez não, talvez fique melhor sozinha, talvez eu até goste e me descabele pelo fato de você não querer ir
talvez
e lembrarei da eternidade que sonhei contigo, ou talvez nem lembre dela e já vá sonhando em eternidade novamente.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

De lápis

Quando, com lápis, escrevemos e marcamos passagens e  trechos tais quais julgamos belos ou memorávies ou terríveis, geniais, não sei, sei que os critérios para tal prática são inúmeros assim como a quantidade de vezes que a fazemos. Quantas vezes não pegaste um livro emprestado e lá constavam, dentre as páginas e linhas, notas manuscritas, trechos sublinhados e evidenciados? Pois é. Penso então, o seguinte parágrafo:

Quando, com lápis, escrevemos a marcamos passagens belas ou memoráveis desses tantos ou poucos ou oportunos livros que nos correm aos olhos e à mente, à paciência ou ao coração... com lápis, pois é reversível: borracha. Como que em tais notas não coubesse ou encaixasse o tom eterno das esferográficas. De lápis para eternizar alguma sensação ou senso de importância diante dalguma linha notável ou digna de nota ou... De lápis para ainda assim remeter à característica reversível dos grafites, mesmo que uma borracha jamais tocará livro algum. Mesmo que, ainda digno de desaparecimento, aquele grafite jamais desgrudará do papel, Reversibilidade intacta pelo tom eterno da beleza e gratuidade do momento em que tais notas foram concebidas e linhas, sublinhadas. Inutilmente, de lápis.