quarta-feira, 23 de junho de 2010

C. F. Abreu

"Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta."


Ps: I Love you.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

de longe

Por culpa da incerteza de ir ou não, não sabendo se deveras vai, ou fica, você vai se multifacetando em diversas partes que larga no chão, tão divididas entre seus bons e velhos dilemas. E eu, quase sem perceber, te deixo mais uma vez. Vou caminhando para longe em passo leve - hesitante - e, distante, vejo-te sempre mais decidido, após a minha partida, ir-se arrastando por aquele velho caminho que sempre te leva até mim e que há tanto tempo faz. Deixa pra trás mais partes do seu ser, como migalhas de si que insistem em ficar, e eu as guardo pra mim. Guardo não apenas por antecipação da saudade, mas também, e com muito mais intensidade, pelo simples alívio de ainda te possuir de alguma forma. Sei que por amor próprio é que você se leva quase por inteiro. E que, igualmente por amor, deixo-te ir sem insistências, fico aqui assim, com o olhar tranquilo tentando ensinar o meu coração a ser mais paciente. E a gente se acomoda, meu bem - e você bem sabe... - novamente na preguiça de não tentar e na rotina descompromissada do 'não dever'.

domingo, 20 de junho de 2010

Pois bem, no ócio, a memória vem me sussurar algumas saudades, mas não dói não, bem, não dói mais. É saudade que dá vontade gostosa de chorar, e, por gostosa que seja, não choro, pois é vontade deveras danada e passa num instantinho. E, assim que passa, me vem ao coração uma certeza que me afaga de um tanto tão completo que me esboça no rosto um belo dum sincero sorriso: saber que um dia desses compartilhamos dessas tantas coisas que seres humanos sonham quando sentem vontade. Isso pra mim tem uma beleza que eu não conseguiria descrever! E, a partir das nossas despedidas, vamos vivendo de novo sem compartilhar mais nada, senão as lembranças. Vamos vivendo abraçados nas nossas certezas próprias, nas nossas artes e vontades individuais, que são bem mais palpáveis que aquele nosso antigo amor... Dançamos novas cadências de novos sambas e bossas, acompanhados de uma tranquilidade bem mais verdadeira que aquela na qual forçávamos nos envolver - e acabávamos por nos afogar.

(e nesse meu novo samba,
nessa minha cadência mais madura,
a melodia se propaga e me abençoa.
e agora eu danço mais, amor,
e vou continuar dançando.
vou sorrir, e dançarei sorrindo.)

cais

Numa verdade mais profunda e sincera, nem estivemos tão sozinhos assim de nós mesmos, pois é provável que eu tenha deixado alguma parte de mim em alguma palavra que ficou retida em ti e, quem sabe, você tenha esquecido comigo um tanto de si, um tantinho assim que eu nem pensei que pudesse reter. Lembrança também acompanha.

mesmo assim...

Mesmo quando você me vem assim,
mesmo quando você volta assim de mansinho,
quase não querendo,
quase se esquecendo no caminho,
eu me pego gostando desse seu chegar.
Mesmo quando você me aparece com essa sua metade,
por esses seus sinais,
bem de fininho, quase não vindo...
mesmo assim,
eu ainda te flagro me tentanto por inteiro.

Depois do arrastar de um tempinho, e só pela duração de quase nada, me vejo resgatando algo que há tempos não sentia, querendo você num todo bem maior e bem mais infindo que o azul daquele nosso antigo céu. Mesmo quando minha mente já ta bem longinha assim de ti, mesmo quando meu coração ja nem sente tua ausência, eu ainda me pego querendo te sentir um tanto mais.


Mas, tudo bem, tem tanta coisa pra fazer que a gente se deixa pra depois...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

lembrete

por vezes a alma se manifesta através da escrita. noutras, um verso provem apenas da imaginacao que aflora e logo extrapola os limites do pensamento. é a metafísica linguistica da imaginacao.

deixar claro quando palavras traduzem sentimento deveras ou quando simplesmente nao o fazem, é papel difícil para quem as le, pois prosadores tem o dom da mistura dos planos reais e imaginários. sentimentos inventados são fáceis para eles! o que os intriga mesmo é o fato de expor tais proezas e acabarem por deixar a própria alma a merce da interpretacao alheia, tao vulnerável e sujeita a pretensiosos leitores...
mas isso é mesmo um risco inevitável.



(os leitores pretensiosos que se cuidem! poetas mentem, devaneiam e dissimulam, saibam.)

domingo, 13 de junho de 2010

paradoxo

Tá bom, eu quero escrever, pensei.
Mas a simplicidade com que essa minha vontade se transformaria em verbo, se foi. E no lugar dela ficou um emaranhado dialético de falsos valores, dilemas e desencontros internos. As palavras que insistiam em se calarem, voltaram ao coração e depois foram direto às mãos, onde se deixaram, finalmente, serem escritas (horrivelmente, ou melhor, rapida e levianemente escritas):


Eu disse a mim mesma que não iria retribuir-lhe as palavras. Mas eu vou, balbuciei. De impulso, minhas mãos fizeram o movimento decisivo quase que involuntariamente. E eu fui. Puts, olha esse céu, e  que acaso mais bonito é o universo e a vida, juntos assim! Olha você aqui do meu lado e olha minha consciência pesando lá longe! Tá vendo? Eu que já embolava a ordem das palavras - e estas que extrapolavam sempre menos concisas do que antes - não sei como ordená-las a fim de justificar que te quero, mas não que não vou sucumbir às tuas investidas. Prezo tantas outras coisas... o que está para acontecer me parece tão vazio, tão distante de mim, sinto-me volúvel. Não consigo interpretar claramente isso tudo. E esse seu calor me prende tanto! Meu emocional, o vejo lá longe nas luzes da cidade, intacto, tranquilo. Não o deixarei vulnerável, não essa noite. Mas minha razão sim, e ela se mescla na minha vontade. Nelas, confundi-me a ponto de igualmente trocar a ordem dos tais valores morais que me martelam a cabeça inutilmente, consciente de que esses iriam sim alterar o nível do produto. Fato que não me importou, pois o momento apontava para nós... E não foi minha consciência que chegou a essa conclusão, nem meus pensamentos que me levaram a ela. Foi o instante. Foi o toque humano, a carne... o frio, a vontade, a curiosidade. E sim, no fundo e no fim das contas a gente se teve.

E minha consciência continua a se perguntar se segredos são assim chamados por um simples capricho de diferenciação da língua portuguesa - ou se essa palavra deveras carrega em seu significado a proeza de não ser digna de nota ou julgamento. Pois tal segredo que compartilho contigo seria de todo mal interpretado se não fosse calado por agora. Mas, enquanto quietinho na sua memória e na minha, pesa quase nada, traduz apenas a vontade de dois seres de trocarem um quanto mais de suor, de se comprimirem e afogarem mais alguns beijos nuns goles de vinho.