segunda-feira, 25 de outubro de 2010

blargh

O acanhamento não foi suficiente então, de súbto, nua, ela levantou.
Com medo de olhar, com medo da reação dele, virou de costas: Me ama? Verbaliza esse amor, por favor!
Ele corou, se encolheu no canto da cama e, por detras das duas mãos que tapavam o rosto enrubecido, - e ela apenas pôde constatar isso pois a curiosidade, que era tanta, lhe impulsionou a espiar por cima dos ombros- bem baixinho, as palavras escorreram pelos dedos
palavras proferidas tão tímidamente
cuidadosamente
escorreram, finalmente:

9*#(0809eiehf0#)

Me ama mais alto? 
Apenas mais alto?
por favor

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Contaí

Ah, vai, pode falar. Já baixou a madrugada e eu sou a única aqui. Desabafa. Sei que não sou nenhuma Bellucci, muito pelo contrário, sou atraente nem um tiquinho assim, mas teus olhos te acusam, simplesmente! Mostram e transbordam essa tua solidão, esse teu desespero por um ouvinte qualquer. Talvez os meus também me denunciem, e talvez seja por ver neles a minha sede por contato que tu vens. Pois então, puxa essa cadeira e contaí do teu dia, dizaí o que fez e deixou de fazer, fala das tua preocupações e dos teus atos vazios. Quer mais uma dose? Vira mais uminhaí, me acompanha e fala que eu quero ouvir. Desabafa que eu admito, me deleito. É, garoto, meu bem, meu menino, eu adoro uma superficialidade. Adoro relatos dessa juventude prepotente, adoro essas aventurinhas que sempre acabam em merda. Então vai, confessa alguma coisa que eu confesso a minha vontade de extrair algum desespero de alguém só pra fazer valer a minha semana. É que estive por aqui a noite toda e nada de interessante me aconteceu até que você chegou; é melhor me divertir senão desisto de vez e vou embora.

Narra num discurso maldito esses teus feitos, as mulheres que deixou e os cantos que se esqueceu.
Versa aí os lugares por onde andou e as pessoas que conheceu,
os porres épicos e as ressacas mais morais.
Pode até fazer poesia se quiser, desde que seja maldita e sincera
desde que você fique
mesmo que não queira
fique.
Vá embora apenas quando o amanhecer e o sol lhe cegar a retina
só quando a sobriedade fizer parte de ti novamente - se é que isso é possível.
Sobriedade é para os fortes, sabia?
Porra nenhuma, olha você aí chamando o garçom de novo.

Armário

e dessa vez não mais nos veríamos
e dessa, e nesses dias seguintes, como todas as últimas vezes, mal lembraríamos um do outro
poisé, assim mesmo
sem mais
sem menos
nem o pretexto de trocar os casacos serviria
e teu casaco e aqueles beijos cairiam no esquecimento em algum lugar do meu armário muito mais profundo que o próprio espaço físico dele é capaz de comportar... assim mesmo, distante assim mesmo
distante e profundo, bem longe de mim,
nos dissipariamos
e talvez até trocassemos os casacos, eu te devolveria o calor que me emprestaste naquela noite fria
naquela noite que o teu próprio calor me foi insuficiente
mas ah, que nada, que vontade de você que nada,
pega isso aqui e bom, tchau
pois amanhã, depois, me perderei de novo em algum braço qualquer
e trocarei casacos mais, quaisquer, casacos de alguéns,
cheios de perfume mas que desprenderão da minha memória em qualquer brisa que for
e os esquecerei novamente,
em algum lugar ainda mais profundo que a própria ideia de profundidade do meu razo e cheio armário é capaz de suportar

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Desabafo !!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Tenho sentido uma necessidade de expressão muito forte ultimamente. Não sei o motivo de ser tão repentino; só sei que é
e que me transborda. 
E que assusta também, por vezes. 
É de uma intensidade tão grande que mesmo quando compartilhada, não é suficiente. Ou pior! Mesmo quando compartilhada, sinto-me equivocada ou desequilibrada aos olhos alheios. Como que conter-me fosse menos nocivo à minha realidade social. Mas... não sei, tenho dúvidas. Sim! Tenho muitas dúvidas! Mal sei eu o que questiono! Só sei que ainda restam lacunas vagas, apenas isso. Algumas angústias me vem ao coração e não sei se estão equivocadas, ou o quão efêmeras são. Tenho vontade de aprender mais, de entender o que é, o que é isso que me aperta o peito, o que é esse essência humana que tanto me questiono. Tenho vontade de estudar sobre assuntos específicos pra ver se canalizo esses nós que me dão. As vezes me parece tudo um tanto quanto inútil,
questionamentos inúteis.. que não me levarão a lugar algum, a não ser o da frustração pois, na verdade - um dia irão me dizer - que resposta nenhuma há para tais perguntas.
 E poisé, daí surge a minha necessidade de gritar alguma coisa. Pois vivo eu envolta de tantas perguntas que, quando me ardem os sentidos poesias, músicas, novos conhecimentos.. sei lá! Dá vontade de expressar o quão me fazem sentir viva, o quão forte eu os sinto e os valorizo. Vontade de gritar pra ver se o mundo sente também, pra ver se alguém vê a beleza que sinto.

Sabe, eu olho o mundo eu vejo as coisas acontecendo, as pessoas se movimentando por entre tudo o que há aí para elas; relacionamentos, sensações... me pergunto se há certeza, se isso está certo. E, se não, o quão errado está! Me pergunto se seria possível uma realidade distinta, se estamos realmente perdidos em nossos comportamentos, nosso sistema, cultura. Me pergunto se realmente poderia haver melhora, mobilização, ou se a realidade humana é realmente feita pra isso, pra viver num mar de dialéticas e contradições. Pois eu sei que a diversidade é algo belo, eu sei que ela faz parte e, juro, eu amo o fato de ela fazer parte. Mas, whatever, pergunto-me se adianta questionar. A oposição é natural, o conflito, o contraste. O ser humano é feito de conflito! Impossível viver numa realidade que não é o espelho de quem nela vive. Não existe realidade sem que nesta falte as características mais básicas dos seres que a constitui. O que vivemos será sempre fruto do que somos e de como misturam-se nossas essências, de como elas se somam. 

Gandhi uma vez disse que não importa o que você faça na vida, tudo será insignificante. O importante é fazer. 
Quando eu li isso pela primeira vez, fiquei indignada e resmunguei comigo mesma que era possível sim fazer a diferença e que tudo isso que vivemos hoje é puramente consequência de um conjunto enorme de pessoas que fizeram! Hoje, porém, entendo melhor o que ele quis dizer. Ou melhor: o que eu acho que ele quis dizer! E penso com meus botões que, no fundo, no fim, no final das contas, não adianta mesmo pois, antes de sermos nós mesmos nas nossas essências mais individuais,
somos humanos. 
E ser humano vai ser pra sempre a mesma coisa contráditória, o mesmo emaranhado de paixões e vontades. Contradições e conflito. O ser humano, enquanto indivíduo, vai ser para sempre esse ser incrível e que pouco compreende de si, que navega pelo mundo sempre em busca de algo. Uns expressando incompreensões ou visões de mundo através da arte, outros buscando a satisfação de suas metas através de carreias sólidas, que prioritáriamente, gerem dinheiro... e por aí vai. Acho que cada um encontra a sua forma de satisfazer-se no intervalo de existência que nos é concedido. Por outro lado, o ser humano enquanto sociedade, dá rumos diferentes para tais expressões em seu meio, e daí a variância de culturas etc, (e, nesse ponto, continuo achando que faz-se sim diferença com o que se faz da vida) as quais, na verdade e no fundo, por diversas que sejam suas instituições e crenças, a essência mais básica de cada uma delas vai ter sempre um ponto de congruência. Pois o ser vai sempre buscar um lugar pra evadir-se, encontrar-se. Para buscar uma grandeza maior que si, algo que dê rumo ao seu destino. E se isso for um deus, uma religão, se isso for ficar cego por tal; uma arte, um outro alguém, alguma poesia.... pode ser simplesmente a busca pelas coisas que o dinheiro proporciona, sei lá, 
são apenas formas diferentes para uma mesma necessidade de dar sentido à existência.

E com toda sinceridade que eu consigo me permitir... minha insatisfação advém da consciência de que isso nunca vai conseguir ser pleno e que vai ter sempre alguém querendo satisfazer-se atropelando a paixão, a individualidade e a vontade alheia. Queria conseguir compreender e proporcionar que cada um conseguisse fazer da sua existência algo dígno, seja lá como isso for, e desde que preserve um bem maior... eu só queria que todo mundo tivesse espaço pra isso, pra expressão e pra conseguir tangir uma tantinho de felicidade. Mas não sei... contradições, dialéticas... isso tudo é muito complicado e intangível, é muito maior que eu e que qualquer outra coisa... a simplicidade é o melhor caminho, no fim
tem que ter tranquilidade pra não pirar.. é por isso que eu gosto tanto... e é por isso que, no fim das contas, sempre me acalma a alma uma certeza que eu não faço força pra ter, nem para praticar... e que eu consegui traduzir em algumas palavras tempos atrás:


Deixo ir, deixo o vento levar as situações que limitam minha serenidade





eu não tou ficando louca.. tou?

pra começar pelo sol e depois, arder

eram tempos de seca na cidade
fazia tempos que não chovia
tava tudo seco, em tom pastel,
inclusive eu
a minha boca e meu coração


ele se aproximou;
os lábios estavam quentes e salgados
quentes, salgados e macios, arderam contra os meus.
a língua, mais quente e úmida, sem palavras
tudo ardia
e eu, gostava

domingo, 17 de outubro de 2010

Escrito por outra 2

É como se a vida fosse realmente maravilhosa. Os amigos reunidos e todos sentindo o momento mais histórico do mundo. Se não foi pra eles, pelo menos foi pra mim. As flores se mexendo, a inobservância dos detalhes, a falta de seriedade...o mundo era nosso. Parece que foi um sonho, mas um sonho bom...muito bom. Fiquei muito mais pensativa, consegui dar vazão aos meus pensamentos que, mesmo comentando com alguém, não seria a mesma coisa.(...) O seu redor fica mais intenso e tudo extremamente bonito, tudo parece um sonho. Derrepente você acorda no meio de uma barraca e a sua barraca entre milhões de barracas e milhões de pessoas lindas que estão explodindo de alegria e que estão ali e simplesmente ali. Conseguiram fazer desse evento uma minicidade, uma cidade que fizesse com que todos os problemas do mundo fossem esquecidos e que a vida ali, naquele momento, fosse eternizada. Foi uma experiência muito bem vivida e pra mim... chega.




PS.: Este texto NÃO foi escrito por Manuela abdala.
PS².: esta versão de texto possui cortes, o texto original não convém neste recinto.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A Harpa Mágica, O Poeta, A Cigana e As paixões e Desilusões No Mundo Mágico do Lugar-Comum

(Parte IV - Desilusões no Mundo Mágico do Lugar-Comum I)

...

Havia um detalhe que possivelmente explicaria a decadência do poeta. Os ciganos esconderam, entre tantos segredos que guardavam, que a magia que a harpa continha era, na verdade, uma maldição. Uma maldição que consistia na obcessão de seu antigo dono, um escravo que nascera nas teras da Babilônia, no sul da Mesopotâmia. Um homem cujas pretensões de ascenção o levaram à loucura e cujas ambições eram grandes demais para se conterem na simples condição em que nascera. Acreditava que, por meio do seu dom natural para com a música, jamais as alcançaria e, por demais apegado a elas, vendeu sua alma numa encruzilhada. Selando tal, e maldita troca, em um beijo com o diabo, trocou sua alma pelo dom supremo da arte, pela magia de enfeitiçar, através das mais belas melodias já ouvidas, qualquer forma de vida que ousasse escutá-lo. E sim, conseguiu e sobreviveu durante anos na corte a esbanjar dos mais belos privilégios e a participar dos mais dionisíacos bacanais. Encantou os mais belos homens e mulheres, conseguiu e acumulou toneladas douradas de ouro. O único e mais precioso bem, porém, que almejava, jamais conseguira: a sua leve, suave e completa liberdade. Escravo deixara de ser logo depois das primeiras notas tocadas, porém, o seu destino estava nas mãos de outro, logo logo ele teria que pagar a dívida que fizera. Assim, a sua alma, que já não o pertencia mais, definhava e ardia em mãos alheias, mas a tênue ligação que ainda possuía com ela, a qual doía cada dia mais, o causava desgosto. O tempo foi passando e a longa vida o foi ensinando verdadeiras virtudes, mas era tarde demais. E, com o poder do desgosto humano somados à dívida que devia e à frieza implacável do demônio, a alma do antigo escravo foi condenada a enclausurar-se para sempre nas entranhas da bela harpa consumindo a humildade e as energias de quem ousasse roçar os sentidos em suas cordas. Até certo ponto, meu bem, pois

Outro porém, havia. Sim, minha bela, no mundo ainda há compaixão, ainda há o amor. Assim sendo, ao invés de condenar tais apaixonados pela música a arderem para sempre nas estranhas ardilosas do arrependimento, a alma do antigo escravo que regia e dava rumo ao destino dos pobres mortais que, ambiciosos e ansiosos pela perfeição musical perdiam-se no obscuro mundo de tal vaidade, os concedia o poder da escolha. Eram seres condenados a liberdade, e a antiga e sábia alma do escravo assim compreendia. 

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A Harpa Mágica, O Poeta, A Cigana e As paixões e Desilusões No Mundo Mágico do Lugar-Comum

(Parte III - A Harpa Mágica e a Cigana)
...
Um belo dia, chega na cidade, vindo dos gélidos montes francos - porém, de origem das terras paralelas ao equador, onde os pássaros tem penas com mais de mil cores e os peixinhos, escamas mais reluzentes que diamantes. Onde os povos dão as mãos e dançam danças sagradas durante dias em rituais culturais, religiosos, espirituais e artísticos em celebração e homenagem à Gaya - uma trupe de ciganos dotados das mais argilosas sabedorias e mais sábias artes-e-manhas. Trouxeram, alarmando o povoado e enfeitiçando o poeta,  uma harpa mágica que, segundo a lenda, tornava qualquer ser vivo em um exímio instrumentista, mais virtuose que todos os solistas de todas as osquestras de todos os reinos, e, com sua arte, poderia conquistar qualquer criatura do universo. Como se já não bastasse, em meio aos lenços e cores e malabares que aquela incrível trupe continha, o jovem artista avistou a mais bela criatura que já perpassou pelos seus olhos tão vividos. Uma linda cigana de grandes olhos negros; um par de brincos com pedras da cor do arco-íris pendia de suas orelhas que ficavam um tanto quanto escondidas por detrás das volumosas, longas e negras madeixas, As quais dançavam e brincavam ao redor da moça enquanto ela fazia movimentos suaves que ritmavam com a cadência da bela música que exalava da harpa mágica. A cigana brincava com os pés, brincava de segurar na borda da longa saia, de rodar e sorrir e era sim, era uma aparição aos olhos do nosso artista. Era poesia em movimento, personificada.

...

Born a poor young country boy--Mother Nature's son
All day long I'm sitting singing songs for everyone.

Sit beside a mountain stream--see her waters rise
Listen to the pretty sound of music as she flies.

Find me in my field of grass--Mother Nature's son
Swaying daises sing a lazy song beneath the sun.

...

O jovem não hesitara e, como quem tira o próprio filho de um celeiro em chamas, comprou caro a harpa dos ciganos com intuito de realizar-se o músico que sempre quis e conquistar a bela cigana. Durante dias e noites, incansável, o poeta tocou sua harpa. Para os reis, para os bichos, para os deuses e para sua amada, tocou como ninguém jamais vira, com um amor e dedicação que músico algum jamais tocara. Contudo, o tempo passava cada vez mais ligeiro e, sem que ele percebesse, mesmo já havendo conquistado sua amada de corpo e alma, nada mais tinha a sua atenção. Se obcecara pela sua harpa e definhava cada dia mais na solidão da sua música.