terça-feira, 18 de janeiro de 2011

carta

   Enquanto eu vagava por entre as plateleiras da Livraria Cultura, notei que Portishead tocava e que soava um pouco diferente aos meus ouvidos. Posteriormente fiquei sabendo que era um show deles ao vivo com orquestra, coisa boa.
   Lembrei de você. De nós, algumas vezes...
   Fui procurar um vendedor. No primeiro balcão que vi pela frente, parei, onde, por acaso ou coincidência ou destio, constava o CD pelo qual eu perguntava - e no exato momento em que iriam trocá-lo por outro. O vendedor falou que iria pegar um lacrado pra mim e, num instantinho depois, voltando de mãos vazias informou-me que aquele era o último exemplar. Achei graça. Comprei na hora. Entende?
   Todos aqueles acasos improváveis que me levaram ao tal CD. O fato de ter sido o último, o fato de que quando eu entrei na loja, me intrigou... Caso eu tivesse enrolado dois ou três minutos, no máximo, pra chegar ali, eu muito provavelmente nem pensaria em Portishead, muito menos saberia da existência de um exemplar tão peculiar.

Achei graça. Pensei nesses acasos que me botaram ali, e também nos acasos e não acasos que te trouxeram a mim. Pensei em como não por acaso, mas pela ordem natural do fluir das coisas, "pela lei natural dos encontros" e também por mérito próprio, fui gostando do seu ficar. Escolhendo estar por perto, mesmo que muitas vezes confusa, ou desconfiada, ou... Sei que foi assim, e foi aí que eu ri por acaso ou não, por coincidência ou destino, desses acasos e encontros que me aparecem. Esse CD me intrigou e eu o comprei pra você lembrar de mim. Pois eu, ogânica humana, passo. A música não, e nela eu permaneço até onde você permitir.

e Glory Box ainda tocar vezenquando os seus ouvidos ou o coração e por isso em algum lugar você me vir, me encontrar, nalguma memória, lembrança, fotografia ou até mesmo nalgum lugar onde teu olhar me alcance. só isso. espero que goste.


te amo

encontro

Eu quero respirar o ar que sai dos pulmões alheios
Eu quero a linguagem empírica, humana
O suor e o sujo
a saliva
Eu quero o aberto, o aperto, o amasso
o cheiro e o fluxo
Eu quero o encontro de fato

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

eternidade e algumas coisas quaisquer

Carinho, cairnho, carinho

posso resumir essa qualquer coisa abstrata que me passeia pelos pensamentos sobre nós, a isso? Carinho, carinho, carinho. Deixar de lado esse arder que sinto e fazer-se apens compaixão.
compaixão
(suspiro)
Gratuidade. Leveza. Se não funcionar pra ti, benhê, tento outra vez nalgum labirinto afetivo de um outro alguém. Tá cheio de labirintos por aí, sabia? Essas pessoas todas, nós, isso tudo, somos todos um grande labirinto enquanto o mundo é plano e claro. A gente pensa que vê, que descomplica, que sente dor, culpa, que ama. (pausa,
suspiro)
mas é tudo ilusão,
(sorriso)
tudo culpa desse labirinto emaranhado no qual transformamos nossas alminhas indefesas e confusas. Humanas. Humaninhas, frágeis, Racionais. A razão também me parece uma fuga, desse ponto de vista em que me encontro, desse lado de cá da janela, enquanto o mundo deságua lá fora, a razão me parece um escudo. Uma força a mais, e me parece certo fazer dela um escudo. Confortável, ao menos. Tá certo, não tá? Não há escapatória, ou você vive ou vive. Quero dizer, ou não vive. Mas é sério, para chegar à conclusão de não viver, vive-se bastante. Ou pelo menos, sente-se bastante. Viver é também sentir. Viver... Além de pensar, objetivar, planejar e blá. Enfim, bom, se você vem e me diz que escolhe estar aqui não há religião nem ideologia nem livro nem razão nem sentimento que te livre da bela, gratuita, pequena e passageira oscilante vida dor amor sorriso frieza luta viagem prazer ímpeto instinto hedonismo estudo e lá vai pedrada.
È tudo muito frágil, não percebe? A natureza é dura, entropia, tem suas leis, ela flui e leva a gente com ela. O negócio é que a gente entra em desespero e nossa cultura não possui mais tantas facetas para a morte das coisas, e a gente sente. Desmistificamos as culpas distantes dos céus, dos deuses e, agora, desesperamos diante do Não-Mais, do adeus, do passar. Mas se escolhemos viver, escolhemos passar. É isso, amigo. E a saudade do passar por vezes dói, por vezes não. Tem gente que endurece por dentro. Tem gente que não. Convença-se ao menos de uma coisa: tudo flui, passa, morre. FIM.

Voltando aos labirinto afetivos presentes nas pessoas.. bom, sonhei outro dia que num labirinto qualquer uma esfinge me perguntava sobre o amor, e não sobre a razão.... e daí, então, talvez, quem sabe, eu me encontrava no emaranhado certo pra mim, que completava e se entrelaçava ao meu. Pois por vezes penso, e isso é muito frequente, que toda essa eternidade que desejo agora com você é a mesma que desejei no meu afeto passado. E é a mesma que desejarei nos seguintes. (QUE? Seguintes? Não há futuro sem você, coração, coisa linda, meu amor, você é o meu amanhã e todos os outros até o fim) É como se o presente fosse para mim uma projeção de um desejo enorme de ser sempre assim. Entendeu?
E que quando você for-me embora, ou quando eu quiser que você vá, ou quando eu quiser ir, bem, daí eu vou me descabelar todinha, desejarei o fim de mim mesma, ou não, talvez fique apenas um pouco perdida até me encontrar um novo afeto, talvez não, talvez fique melhor sozinha, talvez eu até goste e me descabele pelo fato de você não querer ir
talvez
e lembrarei da eternidade que sonhei contigo, ou talvez nem lembre dela e já vá sonhando em eternidade novamente.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

De lápis

Quando, com lápis, escrevemos e marcamos passagens e  trechos tais quais julgamos belos ou memorávies ou terríveis, geniais, não sei, sei que os critérios para tal prática são inúmeros assim como a quantidade de vezes que a fazemos. Quantas vezes não pegaste um livro emprestado e lá constavam, dentre as páginas e linhas, notas manuscritas, trechos sublinhados e evidenciados? Pois é. Penso então, o seguinte parágrafo:

Quando, com lápis, escrevemos a marcamos passagens belas ou memoráveis desses tantos ou poucos ou oportunos livros que nos correm aos olhos e à mente, à paciência ou ao coração... com lápis, pois é reversível: borracha. Como que em tais notas não coubesse ou encaixasse o tom eterno das esferográficas. De lápis para eternizar alguma sensação ou senso de importância diante dalguma linha notável ou digna de nota ou... De lápis para ainda assim remeter à característica reversível dos grafites, mesmo que uma borracha jamais tocará livro algum. Mesmo que, ainda digno de desaparecimento, aquele grafite jamais desgrudará do papel, Reversibilidade intacta pelo tom eterno da beleza e gratuidade do momento em que tais notas foram concebidas e linhas, sublinhadas. Inutilmente, de lápis.