sábado, 27 de novembro de 2010

Renascimento




Segundo o Zen, você vem de lugar-nenhum, e vai para lugar-nenhum. Você existe apenas agora, aqui: não vindo, nem indo. As coisas todas vão passando por você; a sua consciência reflete o que passa, mas ela mesma não se identifica com isso.
Quando um leão ruge diante de um espelho, você pensa que o espelho também ruge? Ou quando o leão se afasta e aparece uma criança dançando, o espelho, esquecendo completamente o leão, passa a dançar com a criança -- você acredita que o espelho realmente dance com a criança?
O espelho não faz nada, ele apenas reflete. A sua consciência é apenas um espelho.
Você nem vem, nem vai. As coisas vêm e vão.
Você se torna um jovem, você fica velho; você está vivo, você está morto.
Todas essas situações são apenas reflexos num lago eterno de consciência.

Osho Osho Live Zen, Volume, 2 Chapter 16

Esta carta representa a evolução dos graus de consciência do modo como é descrita por Friedrich Nietzsche, em seu livro Assim Falou Zarathustra. Ele fala dos três níveis: Camelo, Leão e Criança. O camelo é sonolento, entediado, satisfeito consigo mesmo. Vive iludido julgando-se o cume de uma montanha, mas, na verdade, preocupa-se tanto com a opinião dos outros que quase não tem energia própria. Emergindo do camelo, aparece o leão. Quando nos damos conta de que temos estado abrindo mão da oportunidade de viver realmente a vida, passamos a dizer "não" às demandas dos outros. Nós nos apartamos da multidão, solitários e orgulhosos, rugindo a nossa verdade. A coisa, porém, não acaba por aí. Finalmente, emerge a criança, nem submissa nem rebelde, mas inocente e espontânea, fiel ao seu próprio ser.

Qualquer que seja a posição em que você se encontre neste momento -- sonolento e abatido, ou desafiador e rebelde -- tenha consciência de que isso evoluirá para alguma coisa nova, se você permitir. Este é um tempo de crescimento e mudança."




 reflitam.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010


     Acho que pela primeira vez depois de tempos eu senti uma certeza verdadeira de completude, ou qualquer coisa assim parecida, assim perto. Enquanto esperava, vi dois caras saindo da lojinha, um deles com um engradado de cerveja na mão e o outro com cigarros e vodka na outra. Ambos com cara de Hoje-É-Sexta-Feira-E-Ficaremos-Muito-Bêbados, fumaremos muito e transaremos-muito-loucos-Se-Deus-Quiser. Lembrei das minhas noites em que eu saía pra preencher meu vazio com doses etílicas de sabeláoque, sabeláaonde e trocando saliva com sabeláquem. Mulheres, principalmente, diga-se de passagem. O motivo das mulheres é simples: prefiro o macio dos seios. Prefiro a energia feminina, por vezes suave, por vezes nem tanto, mas sempre muito bela; nunca fui muito chegada nessas coisa de compartilhar o que quer que seja com homens que, em cinco minutos de beijo, já estão comprimindo o pênis contra você, doidos pra enfiá-lo em qualquer buraco na primeira oportunidade (ok, isso é uma generalização um tanto quanto maldosa, mas, sinceramente, dos poucos caras sortidos que eu tive o desprazer de beijar sem conhecer, a experiência não foi diferente.)

     Sabe, o negócio é que a solidão daquelas noites ficava sempre evidente a cada manhã. Na memória, no peito, alguma coisa assim vasta, assim vazia, doía o estômago e era indiferente à alma. Assim, eu ia bem, na verdade, continuava com essa minha tranquilidade que me parece bastante surreal as vezes, sabe? Apesar de tudo, apesar de nada. A vida tem dessas coisas, dessas fases e momentos, o negócio é se virar com serenidade e, modéstia a parte, sou profissional nisso. Só que agora, sabe, nesse dia, nesses meses em que pude te ver e conhecer, resistir, não saber, me jogar, temer e abraçar, com cautela, gradativamente, tão doce e estranho que quase me deixou escapulir algumas vezes, mas que sempre, e de alguma forma, me manteve ali... Isso tudo, esse agora. Um agora em que vejo um alguém através do vidro molhado do carro que me faz sentir bem apenas pela pequena perspectiva de que em questão de segundos vou vê-lo andando na minha direção, entrando no carro e me dando um olhar, um beijo, uma mão, qualquer coisa, qualquer contato que me baste os sentidos. Os quais, confesso, me bastam pela simples a própria perspectiva. Um agora em que os dias passam e estou contigo, onde eu gosto de estar. Num agora em que a chuva cai e, mesmo numa ocasião tão banal, te sinto em mim com uma força que há tempos não fazia. Me arde algo nessas coisas que dizem ser a nossa alma, nosso coração, sei lá!, sei que, vivose - e eles assim pulsavam -, vêm me dizer que amam amar alguém de novo e assim.
E eu, 
junto com esse emaranhado que mora dentro de mim, 
reafirmo que amo a forma como a vida me trouxe num ponto em que esse alguém é você.

(ou, diga-se de passagem, amo como de algum lugar você tirou e criou forças 
para entrar e continuar por perto.)

sábado, 20 de novembro de 2010

pierrot the clown

Eu tava ali sentada dentro do carro, a chuva caía e escorria, deslizava no vidro à minha frente sempre intangível; Eu e ela sempre distantes naquela fração de pensamento - chuva que jamais poderia me tocar a pele naquele momento, apesar de que era como se me tocasse por inteiro, ou algo assim, pois me emocionava e se misturava com uma música bonita que eu ouvia e aquilo me levou à algum lugar nas entranhas dos meus pensamentos que os entorpeceu e me encantou. Me encantou a chuva e a música, mas não apenas as duas (as quais de fato tornaram o momento muito mais cinematográfico e emocionante pra mim que se estivessem ausentes) como também a forma em que eu me deparei olhando pra ti. O via ali parado em frente ao caixa daquela lojinha de conveniências depois de sair do carro tão repentinamente como que fosse comprar a vida que estava se esgotando ali...
 Enfim.
Eu o via e tinha certeza. Me bastava, era doce e sereno, era tranquilo.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

lost

... que me inunde o coração de vertigem toda vez que me ocorrer à mente o teu olhar.
Pois meu peito arde quando os sentidos teimam em te resgatar
E meus pulmões não se aguentem de tanto fôlego
roubado, perdido
retido.



E que me aperte e me abrace.
E que seja forte.
Que me rasge uma peça de roupa qualquer,
que me arranque um botão,
se assim quiser,
Basta que queira.
Que a voracidade desse seu querer transpareça nas mãos;
pois estas que me segurarão pela cintura
e me apertarão os seios;
e que deixarão rastros de calor pelo corpo inteiro;
comprimindo-me contra si na tentativa de ser um só.
Que os olhares furtivos consigam traduzir com sutilieza tudo aquilo que o resto do corpo faz força para não ser ameno. Mas que mesmo sutis, os olhares, ardam.
E que fios dos meus cabelos se confundam em tua língua, pois faz parte. Para então, na tentativa de os retirar da boca,
 se confudam lábios meus com teus e com línguas, os dedos.
Que minha respiração se dilua em teu-nosso suor
enquanto todo o resto que já nem se confunde, nem se dilui, nem se mistura,
pois já se perdeu.
Pois já me perdi.
olhos fechados e tudo mais
E que, por fim, ainda me sinta inteira
mesmo que perdidademente
perdida
em ti;
Mesmo que inteiramente
contendo
você.

sábado, 6 de novembro de 2010

uma brincadeira com as lembranças dos os sentidos dúbios, dos (duplos) sentidos das palavras e dos duplos (sentidos) sorrisos

Não fazia sentido.
Nada fazia sentido!
Eram luzes e sons
Longe das luzes cegantes das cidades
eram as estrelas do céu.
Longe do caos entorpecente das cidades
eram as estrelas 
que dançavam
e as pessoas
que riam
e dançavam
e oscilavam num fluxo constante delas mesmas,
dentro e fora de si mesmas...
Pessoas que se olhavam e se riam
e se beijavam
embriagadas
ou não.
Poucas delas sabiam, porém,
que aquele espetáculo era feito para aqueles
e somente aqueles
que viam além.
Que por detrás de toda uma estrutura,
e que estrutura!,
tinham muito mais cores e muito mais luzes que se podiam ver
aqueles
que viam aquém.
Bom, como ia dizendo
não fazia sentido
mas meus sentidos sentiam
eu amava, 
e ria!

Não fazia sentido.
Nada fazia sentido!
Mas nós ríamos mesmo assim;
Ríamos do fato de procurarmos sentido e,
ainda mais!,
ríamos de nós mesmos
rindo
sem saber o motivo.