sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Primavera



E ela andou. Andou e foi pensando em si, pensando no que ela absorvera durante esses poucos anos; queria entender  o que representava pra si e pro mundo. Pensou que aquele era de fato um belo dia para uma longa caminhada, já que seus pensamentos não conseguiriam conter-se num intervalo de tempo tão pequeno. Pois, além de tempo, era preciso gastá-lo nas ruas. Ver e sentir as coisas passando; era preciso caminhar sobre as calçadas, sentir o odor das pessoas apressadas, ver os carros; era preciso de fato sentir o ambiente que ela se inseria e vivia e, por vezes, se esquecia. Então resolveu ir até a última parada de ônibus que lhe fosse possível e só lá, depois de muito ver las cosas, ela voltaria pra casa com os pensamentos mais amenos.

Foi então que ela começou a reparar nas flores.. no céu, nas árvores; nas folhas, mesmo que secas. Reparou na arquitetura geométrica da cidade; no contraste que o céu fazia com o concreto. E foi ali, no meio do planalto central, por detrás das lentes dos óculos escuros, que Brasília se mostrou inconcebivelmente bela. O céu era de uma beleza incrível. Aahh, as primeiras nuvens da primavera! Raios formavam feixes dourados de luz que perfuravam as jovens nuvens como se iluminassem algo divino. E, de fato, a minha Brasília no primeiro dia de primavera o era, florida, cheia de cor.

(No fim do trajeto foi que ela percebeu que aquela angústia de ter sempre que pensar e refletir sobre algo fora dissolvida pela beleza natural da vida que ainda fluia por entre aquela selva de pedra.)


2 comentários:

  1. eu já me vi nessa situação, exatamente, algumas vezes...
    há... essas nuvens bem que podiam se encher mais. tô com saudades do céu cinzento dessa Brasília...

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  2. Muy bela essa nossa cidade mesmo!
    E muito lindo seu modo de ve-la!

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