domingo, 30 de maio de 2010

fim de maio

é.

foi naquele fim de maio que nos sentamos em silêncio. um fim de tarde no fim de um mês de maio. silenciávamos, sentados na varanda de uma casa abandonada no fim do lago sul, o fim de um relacionamento.

eramos quatro amigos e um gato. claro que nem todos os quatro compartilhávamos de laços igualmente fortes, mas isso pouco importava, pois todos exalávamos aquele lance de companheirismo só de estarmos ali. estávamos ali por ela, para evadí-la na alegria que pudéssemos proporcionar. o gato era dela, andava pela varanda alheio às conversas e movimentos. a perda recente também a pertencia. e esta se concentrava no peito, ardia em uma só pessoa. mas logo era dissipada no tragar do seu cigarro. a mão tremia.

eu queria dizer mil coisas, mas calei cada uma das palavras. não é o momento, eu pensava. faz tanto tempo que não a vejo assim, tão de perto e tão distante... me dói tão forte! eu queria dar um abraço, bem apertado. mas depois vinha-me à cabeça que aquele não era o momento deveras, era momento de sol, distração e risadas.

ai ai, aquele fim de maio. não foi o fim de tarde que eu esperava para um sábado que mais parecia domingo. eu esperava que fosse mais poético, mas ele foi de vazio, de silêncio. foi de olhares cansados, de vozes fracas. olhares dizendo tudo o que as línguas não ousavam. estávamos cúmplices da tristeza, mas o instante continuava a nos fazer sorrir e dizer besteiras. por isso digo que foi esse vazio que deu vazão à beleza daquela prosa que mais parecia poesia. foi nesse vazio que o companheirismo entrou, e que nós quatro - e um gato - fomos parar no fim do lago sul pra contemplar essa brasília dos dias claros de céus azuius

(pois, ainda que as almas estejam por um tris, elas se enchem de céu se o veem.)

Um comentário:

  1. sempre que eu leio aqui, fico querendo ler mais. espero mais escritos. de preferencia mais felizes, embora não seja facil conciliar as duas coisas.

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