sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Contaí

Ah, vai, pode falar. Já baixou a madrugada e eu sou a única aqui. Desabafa. Sei que não sou nenhuma Bellucci, muito pelo contrário, sou atraente nem um tiquinho assim, mas teus olhos te acusam, simplesmente! Mostram e transbordam essa tua solidão, esse teu desespero por um ouvinte qualquer. Talvez os meus também me denunciem, e talvez seja por ver neles a minha sede por contato que tu vens. Pois então, puxa essa cadeira e contaí do teu dia, dizaí o que fez e deixou de fazer, fala das tua preocupações e dos teus atos vazios. Quer mais uma dose? Vira mais uminhaí, me acompanha e fala que eu quero ouvir. Desabafa que eu admito, me deleito. É, garoto, meu bem, meu menino, eu adoro uma superficialidade. Adoro relatos dessa juventude prepotente, adoro essas aventurinhas que sempre acabam em merda. Então vai, confessa alguma coisa que eu confesso a minha vontade de extrair algum desespero de alguém só pra fazer valer a minha semana. É que estive por aqui a noite toda e nada de interessante me aconteceu até que você chegou; é melhor me divertir senão desisto de vez e vou embora.

Narra num discurso maldito esses teus feitos, as mulheres que deixou e os cantos que se esqueceu.
Versa aí os lugares por onde andou e as pessoas que conheceu,
os porres épicos e as ressacas mais morais.
Pode até fazer poesia se quiser, desde que seja maldita e sincera
desde que você fique
mesmo que não queira
fique.
Vá embora apenas quando o amanhecer e o sol lhe cegar a retina
só quando a sobriedade fizer parte de ti novamente - se é que isso é possível.
Sobriedade é para os fortes, sabia?
Porra nenhuma, olha você aí chamando o garçom de novo.

3 comentários:

  1. Eu nem preciso dizer o quanto tuas palavras me encantam.

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  2. Manu, Manu... será que esse desejo de ser sempre toda ouvidos querendo, na verdade, ser toda boca é de touroescorpião também? hahahaha

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  3. Sobriedade é para os fracos!

    Vc é demais minina!
    Bjim.

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